Sobre (Viver)

Data 01/09/2025 22:29:00 | Tópico: Poemas

Sinto escorregar entre os dedos,
não sei se é sombra ou carne.
Mas ossos cantam baixo,
e a água fecha os olhos.

Um céu inclinado dissolve-se
entre os dentes afiados da manhã.
Da luz que sobra, surge o risco vivo:
cada respiração
é um labirinto
onde o corpo se esquece.

Há silêncio que se curva sobre a língua,
e memórias que caminham invertidas,
como se as horas quisessem dormir
antes de acontecer.

E algo — sempre algo,
um sopro — e depois outro,
move
onde ninguém mais se atreve.

E se o preço é a queda,
quem recolhe o voo?

No fundo, talvez,
sobre(viver)
seja apenas
habitar a pergunta.


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