Sinto escorregar entre os dedos,
não sei se é sombra ou carne.
Mas ossos cantam baixo,
e a água fecha os olhos.
Um céu inclinado dissolve-se
entre os dentes afiados da manhã.
Da luz que sobra, surge o risco vivo:
cada respiração
é um labirinto
onde o corpo se esquece.
Há silêncio que se curva sobre a língua,
e memórias que caminham invertidas,
como se as horas quisessem dormir
antes de acontecer.
E algo — sempre algo,
um sopro — e depois outro,
move
onde ninguém mais se atreve.
E se o preço é a queda,
quem recolhe o voo?
No fundo, talvez,
sobre(viver)
seja apenas
habitar a pergunta.