Diário de bordo

Data 24/09/2025 09:37:28 | Tópico: Poemas



Dia zero
A manhã escorre pelos ouvidos. Não há sol, só rumores. Escuto o tempo como quem lê um livro sem capa.

Coordenada perdida
As metáforas morreram ontem. Enterrei-as debaixo de uma vírgula. O silêncio floresce melhor em terreno abandonado.

Fagulha
Escrevo como quem treme. As mãos procuram sobrevivência.

Inventário da ausência
Tenho uma bússola que aponta sempre para dentro. Cada verso que escrevo é uma tentativa de desvio.

Ritual
Antes de escrever, acendo uma dúvida. É o meu incenso. A linguagem responde com fumaça.

Confissão
Feri tantas palavras, tentando tocá-las. Hoje, apenas encosto o ouvido nelas. Talvez um dia me contem o seu segredo.

Noite sem idioma

A escuridão não fala. Apenas observa. Caminho por dentro dela, como quem aprende a silenciar a gramática dos medos.

Relatório de sombras

Há sombras que sabem mais de mim do que a luz. Seguem-me com paciência, corrigem os meus passos. São elas que editam os rascunhos que chamo “eu”.


Epílogo
O mundo ainda existe. Talvez por causa daquele erro ortográfico que deixei escapar.






Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=380629