
À luz da morte, espero por ti
Data 09/10/2025 13:28:39 | Tópico: Poemas
| Do sangue que flui no meu corpo Apenas um terço reza por ti Outro lava-me por dentro O último carrega-me a vida
Nesses vasos, o líquido escuro Corre, sobe, não cresce, mas esmorece De cada vez que te oiço longe De cada vez que te vejo nada
O líquido espesso, vermelho, foge Tento que pare, que fique comigo Que fique em mim, nos tubos Respeite os diques e se recolha
De nada valem meus esforços O fluido tem vontade própria A voz de comando não é a minha Esconde-se atrás de mim, em mim
Por isso, quase me dissipo; o sangue cobre o chão de madeira Torna-o de uma cor desconhecida De que não gosto e que não quero
Vozes surgem agora na minha cabeça Várias em simultâneo, mudas Não reconheço nenhuma pelos pés Não me deixam sair, a cor dos pés
Em vez disso, olho o teto branco É um quadrado que avança recuando Em retângulos disformes diferentes Sem cor, ausentes, de fora
Não sei onde estou, nem porquê Ninguém me fala, ninguém me vê Não sei quem sou, nem quem me chamou Só sinto a cor escura que me inundou
Afogo-me naquela cor Que não cessa de fugir de mim Copiando-te os passos, razão desconhecida
Vou aliviada, sem dor ou sabor Sem ti ou terço que não mereço Pecadora, perdida e desorientada Maldita, esquecida e deitada
Depois levantada por diabretes Orientada por voadores tapetes Lembrada por quem me amou Achada por quem me procurou
Pecadora ainda e sempre Com sangue vermelho nos vasos Ainda a construir diques Na forma de vitrais Para minha proteção Para tua defesa
Até à próxima morte
Entre o poema e a música: uma questão de perspetiva.
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