Poemas : 

À luz da morte, espero por ti

 
Do sangue que flui no meu corpo
Apenas um terço reza por ti
Outro lava-me por dentro
O último carrega-me a vida

Nesses vasos, o líquido escuro
Corre, sobe, não cresce, mas esmorece
De cada vez que te oiço longe
De cada vez que te vejo nada

O líquido espesso, vermelho, foge
Tento que pare, que fique comigo
Que fique em mim, nos tubos
Respeite os diques e se recolha

De nada valem meus esforços
O fluido tem vontade própria
A voz de comando não é a minha
Esconde-se atrás de mim, em mim

Por isso, quase me dissipo;
o sangue cobre o chão de madeira
Torna-o de uma cor desconhecida
De que não gosto e que não quero

Vozes surgem agora na minha cabeça
Várias em simultâneo, mudas
Não reconheço nenhuma pelos pés
Não me deixam sair, a cor dos pés

Em vez disso, olho o teto branco
É um quadrado que avança recuando
Em retângulos disformes diferentes
Sem cor, ausentes, de fora

Não sei onde estou, nem porquê
Ninguém me fala, ninguém me vê
Não sei quem sou, nem quem me chamou
Só sinto a cor escura que me inundou


Afogo-me naquela cor
Que não cessa de fugir de mim
Copiando-te os passos, razão desconhecida

Vou aliviada, sem dor ou sabor
Sem ti ou terço que não mereço
Pecadora, perdida e desorientada
Maldita, esquecida e deitada


Depois levantada por diabretes
Orientada por voadores tapetes
Lembrada por quem me amou
Achada por quem me procurou

Pecadora ainda e sempre
Com sangue vermelho nos vasos
Ainda a construir diques
Na forma de vitrais
Para minha proteção
Para tua defesa

Até à próxima morte







I got that feeling
That bad feeling that you don't know
(Massive Attack)

Entre o poema e a música: uma questão de perspetiva.
 
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Beatrix
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Enviado por Tópico
Hondy
Publicado: 09/10/2025 15:05  Atualizado: 09/10/2025 15:05
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 Re: À luz da morte, espero por ti
Coisa linda, meus olhos navegaram por três vezes em tua magia

Abs Hondy