
Ajustar a pele ao esquecimento
Data 11/10/2025 10:07:50 | Tópico: Poemas
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Caminhas [com os olhos cheios de sal] e a pele marcada por relâmpagos antigos. Trazes no bolso o último suspiro da figueira e o nome [esquecido] de quem em ti floresceu.
Perdeste o lume das tardes lentas [o som das gargalhadas entre as ameixas maduras ainda ecoa nas pedras da eira] e com ele o mapa da infância.
Não não se apaga mesmo que o tempo seja um animal sem rosto.
Não não se enterram as raízes do corpo que dançou com o vento quando o amor era um gesto simples e o medo apenas sombra de pássaro.
E ainda que um dia te deites sobre o musgo que guarda os segredos da chuva continuarás a escrever com os dedos sujos de terra as constelações que nunca aprendeste a nomear.
Tudo o mais é neblina sobre um espelho partido que o outono deixou à porta.
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