Poemas : 

Ajustar a pele ao esquecimento

 



Caminhas [com os olhos cheios de sal]
e a pele marcada por relâmpagos antigos.
Trazes no bolso o último suspiro da figueira
e o nome [esquecido] de quem em ti floresceu.

Perdeste o lume das tardes lentas
[o som das gargalhadas entre as ameixas maduras
ainda ecoa nas pedras da eira]
e com ele o mapa da infância.

Não
não se apaga
mesmo que o tempo seja um animal sem rosto.

Não
não se enterram as raízes
do corpo que dançou com o vento
quando o amor era um gesto simples
e o medo apenas sombra de pássaro.

E ainda que um dia te deites
sobre o musgo que guarda os segredos da chuva
continuarás a escrever
com os dedos sujos de terra
as constelações que nunca aprendeste a nomear.

Tudo o mais é neblina
sobre um espelho partido
que o outono deixou à porta.





 
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idália
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