DesOriente

Data 20/10/2025 07:56:37 | Tópico: Poemas

Alguma vez te menti
Alguma vez te ocultei omiti escondi informação ou permiti que ficasses na ignorância
Porque fizeste isso comigo
Não me mentiste mas deixaste-me ignorante inocente crente numa falsidade
Doente na verdade

Como posso eu agora recuperar viver crer
Saber o quê De quem
Não interessa maldade
Só o sol me toca o rosto
Só o sol me beija os lábios
Sozinha no jardim penso no passado
Quem eras quem foste

O que fizeste
Quem fui
Quem sou
O que faço

Com uma manta nas pernas paradas dobradas
Seguro um livro que passeio e leio
Me faz companhia
Nas pernas ou nas mãos
Me alivia do som das lanternas nos vãos


Desapareceste
E contigo levaste meu ontem
Deixaste-me o presente doente
Um futuro sem amanhãs, sem voz ou luz mas esperando-me Jesus na cruz

Para como ele fazer o caminho do calvário
Para como ele expiar a vida até àquele santuário

Não farei nenhum caminho
Não pequei nem pecadora sei se sou
Não sei porque ainda aqui estou
Sozinha no meio de um destino
Não sei se meu ou do sino
Que toca na igreja agora
Enquanto o povo corre rua fora
Com o livro e o terço na mão
O futuro como canção
O sol no bolso
E o lenço para tapar o pescoço


Quem sou eu afinal
A quem o povo faz sinal
Ajoelha e benze com a água da fonte
Reza e pede olhando o horizonte
Sacia a sede molhando a fronte


Cega coitada antes 'inda lia e rezava
Agora sozinha à esmola abandonada
Conto as moedas que caem pelo som
Poucas parcas pequenas quase nada
E agradeço a quem mas dá ou era zero
Mereço parece esmero de ser lavada
Molhada e estendida ao sol para secar
Na urze deitada aguardo seco severo
Como tempero de tinta de cola fixar
Como molde para paciente ou pintar
Sem pousio e sem depósito
Sem oriente e sem propósito










Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=381086