
Cinzas de Silício
Data 01/11/2025 20:47:06 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Os eletrônicos nascem febris, Repletos de luz, fome e novidade. São criaturas do instante, Brilham como relâmpagos Num céu de obsolescência. Têm corpos de metal e silêncio, Mas nenhuma alma que suporte a ferrugem do tempo. Dez anos — e já se tornam relíquias, Ossos digitais em gavetas esquecidas. O que neles pulsa é memória prestes a morrer Na primeira falta de energia. Os livros, não. Estes respiram devagar, Como velhos monges Que aprenderam o idioma da paciência. Carregam o pó dos séculos E o hálito das mãos que os folhearam. Suas palavras não brilham — queimam. Não piscam — permanecem. Enquanto o chip se apaga, A página acende. Enquanto o circuito se parte, A frase se multiplica em bocas, vozes, ecos. O futuro é curto para os eletrônicos, Mas o passado é vasto para os livros. E quando tudo o que resta for poeira e silêncio, Será ainda uma palavra, Escrita à sombra de uma vela, Quem contará a história De tudo o que quis ser eterno E durou apenas dez anos. Poema: Odair José, Poeta Cacerense www.odairpoetacacerense.blogspot.com
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