Os eletrônicos nascem febris,
Repletos de luz, fome e novidade.
São criaturas do instante,
Brilham como relâmpagos
Num céu de obsolescência.
Têm corpos de metal e silêncio,
Mas nenhuma alma que suporte a ferrugem do tempo.
Dez anos — e já se tornam relíquias,
Ossos digitais em gavetas esquecidas.
O que neles pulsa é memória prestes a morrer
Na primeira falta de energia.
Os livros, não.
Estes respiram devagar,
Como velhos monges
Que aprenderam o idioma da paciência.
Carregam o pó dos séculos
E o hálito das mãos que os folhearam.
Suas palavras não brilham — queimam.
Não piscam — permanecem.
Enquanto o chip se apaga,
A página acende.
Enquanto o circuito se parte,
A frase se multiplica em bocas, vozes, ecos.
O futuro é curto para os eletrônicos,
Mas o passado é vasto para os livros.
E quando tudo o que resta for poeira e silêncio,
Será ainda uma palavra,
Escrita à sombra de uma vela,
Quem contará a história
De tudo o que quis ser eterno
E durou apenas dez anos.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense