
Quando declamo você
Data 04/11/2025 17:21:57 | Tópico: Poemas -> Amor
| Sou impuro, sim — e nisso há verdade. Quando te nomeio, o verbo apodrece em mim, Porque há febre no teu nome, Há doença na tua lembrança. Declamar você é sujar a própria boca. Minha voz te busca nas frestas da carne, E cada sílaba tua me contamina. Não há pureza possível quando te evoco, Somos lodo e espelho, febre e oração, Um mesmo corpo delirando de amor e doença. Declamar você é abrir feridas antigas. A poesia que te chama vem manchada, Não de tinta, mas de pus, Não de arte, mas de febre. Sou impuro — e ainda assim te adoro. Há beleza no que apodrece devagar. No som que traz germes e lembranças. Quando declamo você, Não é o poema que fala, É a doença tentando sobreviver em mim. Sou impuro, e talvez por isso te compreenda. Há sujeira em cada verso que te nomeia, Um tipo de santidade invertida, Onde o sagrado é o que sangra. Poema: Odair José, Poeta Cacerense www.odairpoetacacerense.blogspot.com
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