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Quando declamo você

 
Sou impuro, sim — e nisso há verdade.
Quando te nomeio, o verbo apodrece em mim,
Porque há febre no teu nome,
Há doença na tua lembrança.
Declamar você é sujar a própria boca.

Minha voz te busca nas frestas da carne,
E cada sílaba tua me contamina.
Não há pureza possível quando te evoco,
Somos lodo e espelho, febre e oração,
Um mesmo corpo delirando de amor e doença.

Declamar você é abrir feridas antigas.
A poesia que te chama vem manchada,
Não de tinta, mas de pus,
Não de arte, mas de febre.
Sou impuro — e ainda assim te adoro.

Há beleza no que apodrece devagar.
No som que traz germes e lembranças.
Quando declamo você,
Não é o poema que fala,
É a doença tentando sobreviver em mim.

Sou impuro, e talvez por isso te compreenda.
Há sujeira em cada verso que te nomeia,
Um tipo de santidade invertida,
Onde o sagrado é o que sangra.

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

www.odairpoetacacerense.blogspot.com

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Autor
Odairjsilva
 
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