
Costura Secreta
Data 25/11/2025 01:43:09 | Tópico: Poemas
| Há sempre um lugar onde o que resta se lembra primeiro, um instante anterior, sem pele, em que o corpo aceita o mundo sem perguntar.
No peito, um quarto fechado, o não feito falando baixo, a sombra das escolhas que me escolheram.
O medo, esse animal antigo, aprendeu a repousar. É manso, às vezes. Encosta a cabeça no meu colo, lambe meu ombro como se soubesse que também nasceu de mim.
E mesmo assim, sigo.
Amar é entrar na noite como quem não volta, esperar algo que se anuncie no escuro e responda. Soprar o fogo ínfimo, que pode ser brilho ou apenas o início de mais uma queda.
E quando a chuva vem, eu fico. Algumas águas sabem a costura secreta que refaz o que em mim se rompe.
Aceito o que chega torto, o que falha, o que tarda, o que volta com os pés molhados.
Talvez recomeçar seja este fio de ar, teimoso, precário, a respiração que insisto agora, frágil, mas inteira, entre o risco e a claridade.
|
|