
MOLDURA
Data 01/12/2025 15:50:14 | Tópico: Poemas
| O chão que piso se desfaz O ar que respiro é neblina Sem norte, sul, olho atrás Mas a bússola desatina.
A quem interessa o que sou? Para quê saber o que tenho? Amanhã quem irá onde vou? Se me perdi de onde venho.
O mundo muda e eu com ele Ou ele muda e eu nem sei? Me agarro a um fio da pele À sombra de uma antiga lei.
O que fica já é mudança O que muda permanece Há cadência, ritmo, dança A essência, quem conhece?
Preciso de algo constante Um nome, um rosto, um lugar Mas tudo vira fumo antes Que as mãos possam guardar.
As ruas mudam de nome Os rostos mudam de voz O espelho engole e some O que ainda resta de nós.
A promessa se transformou Mero rascunho ou desenho Uma pintura que descascou E só a moldura mantenho.
Mantenho — por quê? Não sei. Porque me falta outro gesto Talvez por ser a última lei Do mundo cinza, eu resto.
Não é paz, não é cansaço Nem a entrega de quem cai É o instante antes do passo Entre ficar e o que se esvai.
|
|