Eu, Um ministro e António Aleixo

Data 10/06/2008 17:40:44 | Tópico: Crónicas

Diz-se que portugal é uma terra de poetas. Confirmo. Pois é preciso muita imaginação para sobreviver neste país do “ou pagas ou levas”.

Somos todos bons na bisca, no dominó e na bola. Do sul ao norte toda a gente sabe dar um biqueiro numa bola, derrubar dois ou três, fintar o guarda-redes e gooolo...na própria baliza.

Tudo isto graças ao destino ser do signo caranguejo. Fraca piada mas óptima achega.

Infelizmente os leões é quem mandam na selva dos lucros. Nós, poetas da vida airada, se queremos carne, vamos ao talho. Enquanto eles, patetas da vida airada, são os próprios carniceiros que, se nos distraimos, cortam-nos a língua para os seus pequenos-almoços. Exagerei? Náa! Quem dá mais pelo juro? Quem dá mais? Quem é que quer levar um murro se tentar uma prova de que isto não devia ser assim mas assim, porque assim é que está bem? À mínima opinião tem-se um GNR a tomar conta do que se vai dizer. Eu sei aquilo que faço e digo o que me apetece. Só não canto porque me dói a garganta.


ensaio sobre a cegueira de um político:

...e vocês? (nós, nobre povinho) têm a ração controlada pelos cálculos dos ministros. Está doente? Vá se tratar para casa. Eu quero um povo são, a falar de futebóis, a discutir novelas, metidos nos shoppings, atacando hamburguers até aos ossos.

Não importa que não conheçam o Eça ou o Camões, se apenas sabem fazer contas de cabeça. Tudo isto nada importa para a engorda do capital.

Eu quero ter sempre o ás de copas na mão! A luxúria nas veias! Uma empregada a dias para me fazer cócegas nos pés...

Curta conversa entre um ministro e o poeta António Aleixo

Ministro - Limitado! Desculpe mas o senhor é limitado! Tem companhias limitadas, tem um registo de vida limitada. Não lhe conheço competência para pagar créditos de habitação.

A sua conta bancária é ordinária. Vá-se embora. Você é limitado! O seu riso é mal fabricado, as suas esferográficas são de plástico barato, os seus colarinhos nunca sentiram um ferro quente.

Você entrou e não sacudiu os sapatos. Homem que se preze só anda por caminhos calcetados, não pisa uma rua qualquer. Portanto, digo, com toda a categoria do meu diploma autênticado, o senhor é limitado!

Os meus amigos, por exemplo, são de calça vincada e gravata condizente com o carro que conduz. Você, pelo contrário, veio a pé. Você não fala?, pelo menos abane a cabeça a dizer que estou certo.

A. Aleixo - vossemecê tem toda a razão. Eu sou limitado. Como posso eu discordar da sua estupidez? Sou limitado no circuito que vossemecê me quer colocar, mas, fique desde já a saber que, nessa corrida do “anda cá que eu já te apanho”, não participo.

A sua estimada sabedoria, pelo que oiço dizer, é muito admirada, mas como eu não sou perito em burrologia, dessa sua ciência não sei nada. Serei limitado enquanto aqui estiver prestando-lhe atenção, dando hóstias ao pecador na sua reles confissão.

Gente com diploma, engenheiros, arquitectos, políticos e doutos das demais variedades saem todos os dias às carradas, fique sabendo. Eu sou apenas um poeta que Deus mandou para a terra contar o que estes olhos vêem, mas, da minha categoria, Deus não escolhe qualquer um, e está enviando poucos cá para a Terra. Unzinho de cada vez.
Dito palavras morais como quem risca a mesa com a ponta de um canivete para mostrar que a teoria da relatividade não é relativa.

Senhor ministro, limitado é seu mandato com rotwailleres a aprovar a lei. Senhor burocrata, a saúde não se resolve com pancadaria ou com doses de comprimidos para aliviar a ressaca. “Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo, calai-vos, que pode o povo q'rer um mundo novo a sério”.

O seu discurso está gago. A sua tónica são como coelhos amarrados pelas goelas (peço desculpa aos sensíveis). Os papéis onde desperdiça assinaturas já foram usados em actos de pouca nobreza. A sua rosa na lapela está murcha.

Quantos cravos mais serão precisos para assanhar a revolução? Pudesse eu mandar os campos semear! Cada homem transportar a sua semente da paz.
Sou limitado porque não estou aí sentado a preencher formulários, a palrar para uma plateia de barrigudos que na minha T.V. parecem frangos no oceanário. Agora vou dizer ao meu país, que chora no seu berço, o que é ter fado e não ser fadista:“sei que pareço um ladrão... mas há muitos que eu conheço que, não parecendo o que são, são aquilo que eu pareço”. Passe bem!


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