Crónicas : 

Eu, Um ministro e António Aleixo

 
Diz-se que portugal é uma terra de poetas. Confirmo. Pois é preciso muita imaginação para sobreviver neste país do “ou pagas ou levas”.

Somos todos bons na bisca, no dominó e na bola. Do sul ao norte toda a gente sabe dar um biqueiro numa bola, derrubar dois ou três, fintar o guarda-redes e gooolo...na própria baliza.

Tudo isto graças ao destino ser do signo caranguejo. Fraca piada mas óptima achega.

Infelizmente os leões é quem mandam na selva dos lucros. Nós, poetas da vida airada, se queremos carne, vamos ao talho. Enquanto eles, patetas da vida airada, são os próprios carniceiros que, se nos distraimos, cortam-nos a língua para os seus pequenos-almoços. Exagerei? Náa! Quem dá mais pelo juro? Quem dá mais? Quem é que quer levar um murro se tentar uma prova de que isto não devia ser assim mas assim, porque assim é que está bem? À mínima opinião tem-se um GNR a tomar conta do que se vai dizer. Eu sei aquilo que faço e digo o que me apetece. Só não canto porque me dói a garganta.


ensaio sobre a cegueira de um político:

...e vocês? (nós, nobre povinho) têm a ração controlada pelos cálculos dos ministros. Está doente? Vá se tratar para casa. Eu quero um povo são, a falar de futebóis, a discutir novelas, metidos nos shoppings, atacando hamburguers até aos ossos.

Não importa que não conheçam o Eça ou o Camões, se apenas sabem fazer contas de cabeça. Tudo isto nada importa para a engorda do capital.

Eu quero ter sempre o ás de copas na mão! A luxúria nas veias! Uma empregada a dias para me fazer cócegas nos pés...

Curta conversa entre um ministro e o poeta António Aleixo

Ministro - Limitado! Desculpe mas o senhor é limitado! Tem companhias limitadas, tem um registo de vida limitada. Não lhe conheço competência para pagar créditos de habitação.

A sua conta bancária é ordinária. Vá-se embora. Você é limitado! O seu riso é mal fabricado, as suas esferográficas são de plástico barato, os seus colarinhos nunca sentiram um ferro quente.

Você entrou e não sacudiu os sapatos. Homem que se preze só anda por caminhos calcetados, não pisa uma rua qualquer. Portanto, digo, com toda a categoria do meu diploma autênticado, o senhor é limitado!

Os meus amigos, por exemplo, são de calça vincada e gravata condizente com o carro que conduz. Você, pelo contrário, veio a pé. Você não fala?, pelo menos abane a cabeça a dizer que estou certo.

A. Aleixo - vossemecê tem toda a razão. Eu sou limitado. Como posso eu discordar da sua estupidez? Sou limitado no circuito que vossemecê me quer colocar, mas, fique desde já a saber que, nessa corrida do “anda cá que eu já te apanho”, não participo.

A sua estimada sabedoria, pelo que oiço dizer, é muito admirada, mas como eu não sou perito em burrologia, dessa sua ciência não sei nada. Serei limitado enquanto aqui estiver prestando-lhe atenção, dando hóstias ao pecador na sua reles confissão.

Gente com diploma, engenheiros, arquitectos, políticos e doutos das demais variedades saem todos os dias às carradas, fique sabendo. Eu sou apenas um poeta que Deus mandou para a terra contar o que estes olhos vêem, mas, da minha categoria, Deus não escolhe qualquer um, e está enviando poucos cá para a Terra. Unzinho de cada vez.
Dito palavras morais como quem risca a mesa com a ponta de um canivete para mostrar que a teoria da relatividade não é relativa.

Senhor ministro, limitado é seu mandato com rotwailleres a aprovar a lei. Senhor burocrata, a saúde não se resolve com pancadaria ou com doses de comprimidos para aliviar a ressaca. “Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo, calai-vos, que pode o povo q'rer um mundo novo a sério”.

O seu discurso está gago. A sua tónica são como coelhos amarrados pelas goelas (peço desculpa aos sensíveis). Os papéis onde desperdiça assinaturas já foram usados em actos de pouca nobreza. A sua rosa na lapela está murcha.

Quantos cravos mais serão precisos para assanhar a revolução? Pudesse eu mandar os campos semear! Cada homem transportar a sua semente da paz.
Sou limitado porque não estou aí sentado a preencher formulários, a palrar para uma plateia de barrigudos que na minha T.V. parecem frangos no oceanário. Agora vou dizer ao meu país, que chora no seu berço, o que é ter fado e não ser fadista:“sei que pareço um ladrão... mas há muitos que eu conheço que, não parecendo o que são, são aquilo que eu pareço”. Passe bem!
 
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flavio silver
 
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Enviado por Tópico
Carolina
Publicado: 10/06/2008 18:00  Atualizado: 10/06/2008 18:01
Membro de honra
Usuário desde: 04/07/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3422
 Re: Eu, Um ministro e António Aleixo
Olá Flávio
Pode ser a ministra da educação essa personagem
que conversa contigo? Acho que lhe fica bem a carapuça.
As tuas palavras estão do melhor e o texto está mui bem escrito. O António Aleixo deve dar voltas e mais voltas lá onde está, porque isto de ser ladrão e não parecer engana os mais incautos, mas nós já os conhecemos de cingeira.

beijo

Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 10/06/2008 18:12  Atualizado: 10/06/2008 18:12
Colaborador
Usuário desde: 13/10/2007
Localidade: São Paulo- Brasil
Mensagens: 4206
 Re: Eu, Um ministro e António Aleixop/flavio silver
quer na prosa ou na poesia surrealista que fazes, tens o dom de primar. e brincar com as palavras. elas gostam. e dizem amém.

abraços,

tua cria (rs rs rs)

júlio

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 11/06/2008 00:34  Atualizado: 11/06/2008 00:34
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: Eu, Um ministro e António Aleixo
Interessante e curiosa conversa essa!
Só de imaginar a cena que vi através do que li, fartei-me de rir para o meu monitor. O meu gato até desconfiou e veio averiguar...

Muito bom!

Beijo

Enviado por Tópico
MariaJoséLimeira
Publicado: 17/06/2008 00:28  Atualizado: 17/06/2008 00:28
Super Participativo
Usuário desde: 04/06/2008
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Mensagens: 131
 Re: Eu, Um ministro e António Aleixo - Parabéns!
É um texto político, cheio de sarcasmo e muito bem escrito. gostei muito. Saludos. Maria José Limeira.