
Declaro-me orfão
Data 15/06/2008 17:26:23 | Tópico: Poemas
| Confesso-me órfão numa orfandade sem fim se não te vejo se não te tenho se não te escuto a deshoras nas horas que te ausentas e estás aquém de mim.
Tudo m’atropela, m’esgota e m’avassala tudo m’agita em junqueiras, estilhaços, fragmentos: - do vento ao verbo, do mar ao abismo profundo, este, que em solidão horrífica, para além de louco, m’abocanha as entranhas e me faz escrever assim.
Ah esta sede maldita de beber a taça ácida, a tal, a taça de cicuta, este olhar que não precata, não acautela ou previne as intempéries da vida; Este madrigal que s’agita na prata de tuas baladas e m’emprenha p’lo ventre, se é um quase nada …
Declaro-me órfão, d’orfandade declarada em registo e cartório, com averbamento e assento, se órfão desde sempre me sei, desde meu nascimento, se, em todo este tempo, não me foi dado o encanto de amar e ser amada …
Declaro-me órfão. E morta por outro tanto!!! Carpideiras não quero. Que se poupe no pranto!
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