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Declaro-me orfão

 
Tags:  poema de amor    balada  
 
Confesso-me órfão
numa orfandade sem fim
se não te vejo
se não te tenho
se não te escuto a deshoras
nas horas que te ausentas e estás aquém de mim.

Tudo m’atropela, m’esgota e m’avassala
tudo m’agita em junqueiras, estilhaços, fragmentos:
- do vento ao verbo, do mar ao abismo profundo,
este, que em solidão horrífica, para além de louco,
m’abocanha as entranhas e me faz escrever assim.

Ah esta sede maldita
de beber a taça ácida, a tal, a taça de cicuta,
este olhar que não precata, não acautela ou previne
as intempéries da vida;
Este madrigal que s’agita na prata de tuas baladas
e m’emprenha p’lo ventre, se é um quase nada …

Declaro-me órfão, d’orfandade declarada
em registo e cartório, com averbamento e assento,
se órfão desde sempre me sei, desde meu nascimento,
se, em todo este tempo, não me foi dado o encanto
de amar e ser amada …

Declaro-me órfão. E morta por outro tanto!!!
Carpideiras não quero. Que se poupe no pranto!


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
reginamariareis
Publicado: 16/06/2008 02:35  Atualizado: 16/06/2008 02:35
Muito Participativo
Usuário desde: 25/05/2008
Localidade: São Paulo
Mensagens: 54
 Re: Declaro-me orfão
Uma balada. Repleta de metáforas e outras figuras bem colocadas que enriquecem o poema!
Parabéns, poeta, pela sensibilidade que jorra de seus versos!
Regina Reis


Enviado por Tópico
Fhatima
Publicado: 16/06/2008 03:13  Atualizado: 16/06/2008 03:14
Membro de honra
Usuário desde: 12/02/2008
Localidade: Joinville - SC
Mensagens: 3336
 Re: Declaro-me orfão
Olá Poetisa!
Poema de forte conotação expressiva, sentimental, os pensamentos carregam-na em devaneios dolorosos, permeado por uma amarga realidade: a solidão!
Muito belo teu texto, apesar de triste!
Abraços!
Fhatima


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/06/2008 20:14  Atualizado: 16/06/2008 20:14
 Re: Declaro-me orfão
"Confesso-me órfão
numa orfandade sem fim
se não te vejo
se não te tenho
se não te escuto a deshoras
nas horas que te ausentas e estás aquém de mim."

É a máxima expressão da falta de outro ser que se pensa complemento vital.
Sua poesia é um movimento contínuo e crescente.
Como é bom te ler.
Beijos.