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 Pêndulo de FoulcautData 19/06/2008 11:43:47 | Tópico: Poemas
 
 |  | gostava de saber em que lugar se morre primeiro,
 em que momento do corpo (ou da alma) anoitece o sol
 e, vegetativo, num enclave boreal, não ousa sequer amanhecer…
 (houvera pois quem me soubera dizer…)
 
 pressinto que seja
 no instante inaugural em que o gesto ternurento
 se entretece de um luar sempre crescente,
 alheio a tudo sem mote ou regra e,
 arrestado por velas rotas, desordenadas,  desaparece,
 socumbe cobiçoso de ser. não acontece.
 
 contudo a dúvida permanece e mina minh’alma
 ensandecida.
 
 reflicto e ouso acreditar, que a morte começa quando,
 olhos famintos não encontram de si espelho
 na íris profunda doutro olhar. tudo é frio, vazio.
 o mundo gela, congela iceberg, calote polar.
 
 de microscópio em punho pipeto o líquido da
 minha própria salinidade.
 
 cogito sobre memórias e lembranças duma brochura
 desfolhada e tão lida, analiso nervuras dérmicas
 em busca de que as células moribundas
 não faleçam  irreversíveis.
 para que, em irreversibilidade de si, me não amputem
 definitivamente até os terminais dos dedos…
 
 alieno as lembranças, num pêndulo de foulcaut,
 instinto de ritmo irregular.
 confiro-lhe total liberdade d’oscilação
 em busca do Infinito, da latitude zero, o equador…
 e não o acho.
 
 o tempo passa, enregelando tudo sem recato,
 na vaga que me arresta. já nada resta…
 …
 
 insana, dobro-me de novo
 no desejo de beber a água límpida
 p’la concha de tua mão.
 
 dobro-me a um amor maior enrolada na tua cinta,
 campina cinta. vermelha cinta desta lezíria em flor.
 em mar de fogo consumida, sou de ti,
 já morta, quiçá vaga,  a louca, resquício de lembrança.
 
 e tu de mim, eterna esperança … meu amor!
 
 
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