O (in)sucesso escolar

Data 01/07/2008 21:07:15 | Tópico: Crónicas

Em Portugal estamos no fim de mais um ano lectivo. Este ano, e de acordo com as estatísticas, a grande maioria, para não dizer todos, os alunos irão passar de ano. Ao que parece os alunos merecem passar de ano. Não importa se sabem a matéria, importa que passem de ano.
Conheço, infelizmente, alguns casos que demonstram bem que o enfoque está na passagem de ano e não na aprendizagem.
Duas meninas que frequentaram o primeiro ano de escolaridade, chegaram ao fim do ano sem saber ler. Mas passaram de ano. Alguém me explica como é que elas se vão dar no segundo ano se, supostamente deveriam saber ler? Quer-me parecer, mas posso estar enganada, que vão ter mais dificuldades em aprender a matéria de dois anos num só de modo a irem preparadas para o terceiro ano do que seria se reprovassem e repetissem o primeiro ano. Vai ser mais complicado para as miúdas e mais complicado para a professora e restantes alunos.
Noutro caso o aluno teve apenas dois testes positivos ao longo do ano escolar. Um a cada disciplina e cada um deles foi um positivo muito baixo. Passou de ano. É impressão minha ou este aluno não está minimamente preparado para o ano escolar seguinte? Mais uma vez posso estar enganada.
Foi notícia que o exame final de matemática foi demasiado fácil. De tal modo fácil que muitos alunos se sentiram enganados porque passaram um ano a estudar para... nada. Estudaram para absolutamente nada porque, quem não estudou também vai ter uma boa nota no exame final porque as perguntas eram demasiado simples.
Estes casos configuram casos de sucesso escolar. Os alunos passaram de ano. Mas será sucesso ou insucesso? Não será antes um sucesso momentâneo que levará a um futuro de insucesso?
Afinal que aprenderam os alunos, os jovens de hoje, os adultos de amanhã, neste ano lectivo? Que não precisam de se esforçar, não vale a pena fazer o que quer que seja durante o ano porque merecem passar de ano e irão passar de ano – independentemente do que fizerem. Estamos a criar uma futura geração de adultos que terão enormes dificuldades em ler, escrever ou fazer operações aritméticas simples. Estamos a criar adultos que terão sempre a ilusão de que não precisam de fazer o que quer que seja, serão recompensados à mesma. Mas nós, que já somos adultos, sabemos que não é assim. Então porque insistimos em fazer acreditar que é assim?
Não culpo os professores. Na sua grande maioria querem fazer alguma coisa, ensinar os alunos convenientemente, reprovar os alunos que não mereçam passar mas o sistema educativo actual não deixa que assim seja. Nem o sistema nem alguns pais que preferem que os filhos passem de ano a qualquer custo do que terem de enfrentar uma crise existencial dos filhos por terem reprovado. É mais fácil. E, neste momento, a nossa sociedade vive a época do facilitismo. Queremos tudo simples, acessível, sem trabalho, sem contrariedades. Será esta a melhor maneira de viver? De ensinar? De ser e de estar na vida? Ter tudo sem preocupações, sem o gosto de saber que, no fim do esforço vamos ser recompensados?
Não é, seguramente, isto que eu quero para os meus filhos. Por mais que os ame, e amo de coração, quero que eles lutem para ter as coisas. Que se esforcem para serem recompensados. Prefiro, se for caso disso, que reprovem de ano a que passem sem merecer. Porque só assim serão adultos conscientes das suas capacidades e capazes de tratar de si.

Um velho ditado diz qualquer coisa assim: "As facilidades que hoje damos, são as nossas dificuldades do amanhã". Não estaremos a entrar por caminhos perigosos neste mundo actual da globalização? Amanhã, para além dos alunos, quem pagará esta factura não será o próprio país? Pensem nisto!


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