
O trem da Central do Brasil
Data 10/07/2008 04:27:20 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Vou-me embora nesse trem Vou-me embora nessa sina Vou prá casa na Vintém Ver Menina, minha mina.
Cantando e assobiando Um sambinha popular. Vou dormindo, cochilando Prá não ver tempo passar.
Vou sonhando com o mundo Esperando prá mudar. Vou fazer uma fezinha, No cachorro apostar.
Lá vem vindo o camelô Anunciando com ardor, Agulha, linha, tem senhor! Carretel e pregador.
Meu sapato já furou, A Menina reclamou Pediu um desentupidor Pois a pia transbordou.
Psiu, Psiu! Ô camelô! Vem na mão com abridor. Tem dedal, tem sim Senhor.
Tem elástico e varal. Que retira do avental Vai girando o seu jirau.
Quero um desentupidor, ô camelô, Minha pia entornou. Tenho só cinco mil réis, Não me serve um abridor.
Tem biscoito, tem pastilha, Mirabel e simpatia. Agradeço a serventia Do guri com anemia.
Vou-me embora nesse trem No constante vai-e-vem Cochilar um pouco mais Sem pender para o rapaz.
Vou-me embora nesse trem Que não chega na Vintém. Amanhã de novo tem Jornaleiro, pipoqueiro Esmoleiro tem também.
Tem o primeiro vagão Com pastor dando sermão. Cozinheira cantadeira Com a Bíblia na mão.
Tem irmão falando grosso Ex-bandido agora moço. Todos cantam uma canção No meio da oração.
Vou chegando na Central Cumprimento o Juvenal Moleque trabalhador Vendedor e lutador, Anunciando o jornal.
Já dizia minha avó, Quem não estuda até dá dó. Vou prestar vestibular. Este ano vou passar. Medicina, nem pensar.
O patrão tem que ajudar. Pode ser demagogia Mas eu vou aproveitar.
Vou-me embora deste trem. Oh, Menina, cá cheguei Sem nenhum, nenhum vintém.
Camelô não ajudou Só achei um abridor. Mas trouxe algumas rosas, Lá do Zé, o vendedor. Toma Menina o meu favor, É uma lembrança com amor.
Vou-me embora da Vintém Desta vez não vou de trem Vou de táxi amarelo Prá Rocinha, bem além.
Vou pagar o armazém, O padeiro, o verdureiro, O sacolão e o floreiro.
Deu cachorro na cabeça, O sermão me ajudou. O bicheiro me pagou. Prá Zona Sul agora vou.
Juvenal me balançou Do sonho me resgatou Levanta homem que chegou.
Vamos logo desse trem, Já chegamos na Vintém! Vou ver Menina, minha mina Que seu beijo me fascina.
Cheiro de alho me alucina. Amanhã é sexta-feira Vou no forró da saideira Com Menina lá na feira.
Vou-me embora desse trem Só quando for para o além.
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