As conhecidas e velhas crises

Data 22/07/2008 22:47:33 | Tópico: Textos -> Humor

dedico este texto (na minha qualidade de humorista que a maior parte desconhece)ao magnorobertoalmeida por trazer luiz f. verissimo, humorista que muito aprecio


- Ai amor, deste lado faz-me cócegas!

- Roberto, assim não dá! Quero avançar na ideia e tu tens que neste momento exacto, nesta precisão microscópica, neste quase infalível segundo, virar a cara ao lado!
Tens que me dizer o que tens! Não foi para isto que casámos , pois não?! Dantes eras diferente, a tua vontade sobrepunha-se mil vezes à minha, adormecias com a tua perna em cima da minha, era preciso muita habilidade para te acalmar, ou já não te lembras que era assim?
Interrompias o meu sono para aquilo que sabes bem. Ai se o casamento viesse com possibilidade de devolução!, te garanto que te devolvia já amanhã ao sindicato dos sem-amor!
Os teus beijos são tão rápidos que nem dá para acender uma vela quanto mais fazer labareda.

Fazes ideia à quanto tempo não nos beijamos como dois adolescentes que não querem outra coisa senão beijar? Pois digo-te: talvez há mais de sete anos. Roberto, o desejo vem de todos os lados.

Não te importas que eu afime isso? Já não tens ciúme? Perguntavas sempre para quem é que eu estava olhando, querias a atenção toda, agora, é isto: eu deito para um lado da cama e tu deitaste para o outro lado, como dois brinquedos desligados.
Aqueles boas-noites quentes, apagaram-se, adormeces que nem bebé, com as meias calçadas, com o coiso apontado para o sul, ressonas como uma vara de porcos e só acordas de manhã feito caramelo lambido.

Definitivamente, não queres saber mais de mim! Que foi que mudou desde a última vez, que foi que mudou?!
Daqui a pouco esqueço como se faz e, o meu sexo dará só para fazer necessidades.
Tens que me dizer o que tens! Por que é que negas o calor da minha carne! Roberto, se eu sei de algo que ainda não sei, faço de ti e do teu biscoito um assunto encerrado.
Não me tentes! Sou capaz até de virar macho para te esmorraçar. Deixa-me te tocar, sente o que sinto. Vá lá, ao menos tenta!

- Ai amor, deste lado faz-me cócegas!

- Porra para o teu humor! Nunca estás pronto quando eu quero que estejas! Só te oiço falar que fazes e aconteces quando tens os teus amigos por perto.
Quem te ouvir falar com essa tua lábia de D. Juan, julgará que Deus te safou de uma má potência e, que ainda terás muitos quilómetros para marchar. Ou que tens um harém.
Treta! Precisavas é que eu dissesse a eles que tu e o teu benjamimzinho estão acabados, mortos, nikles.
Ou cansou-te o peixe, foi isso?!
Ou gipou o motor como em tantas vezes?! Não me digas que é outra vez a asma ou a figadeira! Nessa já não caio!

Vá lá, Roberto. dá-me uma palmada no traseiro como dantes fazias. Vamos recordar velhos tempos, esquece as tensões altas e o açucar no sangue. Pega, toma esta pastilha que comprei na farmácia, só para hoje, quero-te ver a engolir, vais ver que resulta, que aquece o corpo e alma.

Ferra-me na orelha, diz-me aquelas palavras obscenas, mágicas, chama-me condessa que eu gosto, vamos comemorar como se fosse aquela primeira vez na garagem do teu pai.
Quando tinha ainda a pele esticadinha, não sobrava no pescoço, a anca estreita, sem variz a incomodar. Vá lá Roberto, vamos comemorar os cinquenta anos de casados.

- Ai amor, artroses! Artroses!



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