BALADA DO DESESPERO

Data 01/08/2008 12:04:06 | Tópico: Poemas

por que me fizeste crer no azul
enquanto preparavas dias escuros?
por que me mostraste a vida
enquanto escrevias a minha sentença de morte?
por que saciaste minha sede
enquanto em silêncio roubavas a água toda que eu tinha?

chegaste-me sem avisar e da mesma forma partiste
saí cego a procurar-te nas quatro fases da lua
porque o amor crescente num piscar fez-se minguante
fui ter com a lua nova e também com a lua cheia
informaram-me que te viram
sozinha num porto distante
passei noites inteiras esperando a rainha do mar
prometi-lhe tantas prendas
minha espera ficou no esperar

fui aos meses todos do ano
andei de janeiro a janeiro
fui procurar os reis magos
mas nem belchior nem gaspar
muito menos baltazar
não souberam ou não quiseram
dar-me o teu paradeiro

por que me enganaste com beijos
para depois com a mesma boca ferir-me
a palavras de sangue?
por que numa bandeja de prata serviste-me a verdade
para depois lançar-me
no porão das tuas mentiras?
por que me deste estas asas
para em seguida cortá-las impedindo-me de voar?

desafiei frio e calor
investiguei todas as estações
primavera encontrou-te um dia
pisando as folhas do outono
viram-te no verão disse o inverno
em brancos trajes de linho
verão informou-me ao contrário
jurou-me que estavas no frio
com um taça de vinho

tentar bem que tentei
invadi o mundo dos anjos
mas querubins serafins e arcanjos
recusaram-se a falar
assim eu que em teus braços fui forte
sentindo agora as forças minadas
ponho os pés nas madrugadas
e fico calado a pensar
se eu me matar de repente
talvez num golpe de sorte
nas trevas da minha morte
amada eu te possa encontrar

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júlio




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