BALADA DO DESESPERO

Irmãzinha,

Vou-lhe responder a meu modo. Segundo a cartilha da porrada - foi nela que aprendi -, é porque o ser humano não presta. E eu me convenço disto cada dia mais. O defeito de fabricação torna-se visível a cada fato novo que a gente vê e lê. Os bichos são diferentes, não se comportam como nós.

um beijo e você, no arão e nas crianças.

júlio

meu irmão poeta,

se olharmos sob a ótica no poeta russo eugênio evtutchenko, "a autobiografia de um poeta são seus próprios poemas", não posso negar que estes versos estão ligados à minha vida, ainda que eu não queira. e contrario a mim mesmo, porque sou da opinião que os poemas não devem exprimir sentimentos pessoais do poeta, a não ser em raríssimos casos, pois há o risco da peça poética transformar-se em diário íntimo, o que pode enveredar para o xaroposo, quando não o ridículo. mas, no caso da minha Balada do Desespero, se há um pouco de verdade, há também um pouco de ficção.eu mesmo, porém, já não sei onde acaba uma para dar começo a outra. como diria mario quintana, eu não seria eu sem as minhas contradições.

abraço, irmão. tô morrendo de saudade do rio. vivi algum tempo aí, quando trabalhei na revista manchete. e acho o rio a cidade mais linda do mundo. aliás, já escrevi uma vez, numa crônica, que prefiro morrer de bala perdida aí do que de tédio em são paulo. um dia volto.

júlio

mais uma vez só lhe tenho a agradecer pelo comentário. você respira arte. por isso, parece-me magoada às vezes com a vida. talvez por isso goste também dos meus versos. mas olhe, eu já estou velho demais para ter ilusões. não reze pela minha cartilha. sofrimento é bom só de vez em quando.

afeto, menina poeta.

júlio