antiqua alma

Data 10/08/2008 15:17:38 | Tópico: Poemas -> Paixão

Revoluteia
a noite solitária, torrente do mesmo mar azul,
que nos une
que nos arresta em velas d’água,
lisas, espessas, opacas,
e nos congrega e nos aparta, trigo e joio,
…unha e carne, língua e boca,
fogo e labareda
rubra.

rola e enrola
a fala da falésia em cantos sistémicos de madrugada
fria, luz brunida p’la abdicação, p’la renúncia…

flatulenta, a ventania, semeia rosas bravias
na garupa das ondas
grinaldas persas em que me teço e rolo
sarça

antiqua alma…

dispo-me de mim
do sal dos olhos do sal da pele em flor de sal
sustida à fraga.

visto-me do sal do sexo das virgens,
semente do teu sémen de que não conheço
o fruto aberto em carne viva
o cheiro
o gosto
o tacto
e quero… quero-te. amante que inventei
para me sentir dilecta, amada...

sol em onda
solitária escarpa

sou! … mais nada!

o desejo move neblinas de poemas
desbrava sonhos em vidros poeirentos de vidraça
marés e vagas
nossas
similares e antagónicas
em silêncio de aves que voam e já estão mortas…

agora sou rodilha, trapo roto, mulher sem rosto
a vogar de norte a sul - península e ilhas,
Berlenga, Estelas, Farilhões …
aquelas em que a chama se toma nua
em que me colhes,
chama tua,
em concha em búzio oco em gruta em lapa
sendo
filigrana
bilros desejos envoltos em sargaços crassos
e sorrisos pueris e loucos de criança …

ao largo a esperança! … naufragada!


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