Mascarada tal judia às portas de Babilónia
Data 10/04/2007 10:44:20 | Tópico: Poemas
| No crivo aberto, tacteado a preto e branco na claridade fragmentada da manhã, diminuem-se os cheiros apregoados do Abril dos Cravos e das Buganvílias do Jardim.
Filtrada nas persianas semi-fechadas, a luz escorre agora. Alva, tal leite derramado na noite que chora.
Olho as pregas enrugadas do meu corpo e sinto, que não me habito mais. Que na matriz do vento, a pele que me comprimia o sangue e a carne se esbateu. Viajou perpetuada na voz veloz do silêncio.
A pele, essa, está agora sentada numa cadeira desencaixada para lá da amargurada noite e da elementar nascente de todas as fontes.
Fragmentada, num tempo onde reside um argumento secreto de uma sépia película obliquada e sem sentido. De um tempo não vivido. Distância entre o agora e o infinito. Vejo-a mascarada tal judia às portas de Babilónia.
Ecoa em sinfonia estridente de serras, pinças, martelos pneumáticos e mil demais instrumentos, no incessante batuque das oficinas dos caldeireiros. Nas narinas, agora, todos os bálsamos e cheiros ...
Os passos, os meus passos nos corredores ... Os fumos da Oficina dos metálicos odores A decapagem cáustica na profunda tina dos mil tubos para as turbinas das centrais ... E depois o abrasador calor do forno da fundição E o cheiro acre e ardente das brocas mornas com que os serralheiros esventram o ventre do ferro mais quente... limas, limões, tornos, serras eléctricas, bigornas ...
Tudo se agita no murmúrio da agonia, trazendo à luz do dia o passado e o presente.
E andando com o filme de trás para a frente, vejo nele uma mulher-menina, uma quase adolescente a enfrentar, de cabeça erguida, a Vida ... Esta que anda agora aqui sem ter rumo e sem destino, no mais louco desatino ... perdida dentro de si, na citadina Avenida.
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