
OS PÍNCAROS DO ABISMO(inédito)
Data 05/10/2008 11:55:49 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| OS PÍNCAROS DO ABISMO
Ao sucumbir ao sono, Perco-me na viagem Á espiral de dimensões intoleradas, insones:
Lá, Digladio-me com antigos demônios Que, até então, Pensava pairar sobre o céu Do crepúsculo dos íntimos infortúnios hediondos.
No entanto, Pungentemente, Descubro que, Em mim, Eles jazem, Latentes, silente E continuamente diurnos:
Esperando pachorrentamente O átimo conciso Para que me induzam A ir á sua arena do sodômico Feitiço.
Porém, Para meu próprio espanto, Suplanto-os a todos os meus endógenos inimigos indômitos:
Contemplo-lhes impávida e destrutivamente O fundo dos olhos que destilam O veneno pérfido da naja --- Mortífera! Mortífera! ---
E com o êxito, Uma sucessão De vagalhões de êxtase Acomete-me e me transmuda Em altaneiro arvoredo, Tsunami de néons, orvalhos E perpétuas neves do nirvana Fazendo aflorar-me Na soturna face A quietude, a fleuma, O saber caminhar e atravessar a difícil embocadura Que não me deixa cair no abismo do ermo E me leva direto ao lendário reino Onde mora a benfazeja sabedoria de Buda.
Ah, não mais que subitamente, Acordo deitado no chão da varanda E debruço meu olhar sobre o sol Além das nuvens guarnecendo o céu, Além da cadente chuva: Aí, deslindo o segredo Para me manter imune Ao inexorável poder Da sua chama voraz A arder frações opulentas da vida Em molde de onipotentes rochedos Á natureza da indissoluta sílica.
Posso drapejar sem comedimento, Mas sinto ânsias de remorso Por estar sobre o senhor dos píncaros Da infinita felicidade insubmissa, arredia; Enquanto a maciça maioria Fica ao jugo do malsão sabor Do interminável oceano de esquizofrenia, Tornando pensantes vidas Em miserandos chapados, cativos da larica Da mortuária alegria.
Embora tente contumazmente Alertá-los, fazê-los, De todas as maneiras filhas da poção da dinâmica Da dialética lógica, sempre perfeita, Enxergar a emancipadora centelha, Eles, enleados nas malhas Do engenhoso sortilégio maléfico, Confinam a sua visão em lentes Herméticas do desdém.
Afinal, Sob o efeito desta tétrica epifania, Decido voltar á arena Do malévolo feitiço A fim de me entregar, Espontaneamente, A meus dianhos, Eternamente famintos: Loucos para devorar-me A suculenta ruína do idealismo.
jessé barbosa de oliveira
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