De olhos fechados

Data 17/10/2008 15:45:33 | Tópico: Prosas Poéticas

Fecho os olhos e visto o silêncio. Calo o quotidiano e escuto a música, melodia de embalar que adormece o ser. Deixo de olhar para não ver, para sentir o calor que invade a pele. Inspiro e saboreio a atmosfera, isolando os sabores, degustando os aromas. Deixo escorrer pelo corpo o doce amargo do chocolate negro, num desafio à tua lingua. Lambes esse exótico elixir, fluido cremoso que em rio de lava desliza pelo meu peito.

Encontro na tua boca o mel dos sentidos, prazer adocicado que se mescla com o gosto agrido do vinho fermentado deste espumante, entre nossos lábios prendemos um morango, em forma de coração, símbolo inequívoco da paixão, carmim ardente que se desprende em sabores de framboesa. Loucura eterna que degustamos num afrodisíaco banquete de corpos, mentes dementes que se evaporam no calor intenso que em seu redor se desenvolve. Abraço, alado e presente que os corpos prende como se fossem tão simplesmente um único lugar, corpo ausente que em todo o lado se pressente .

Não sei se é insanidade ou luxúria, verdadeiramente, não quero sequer perceber, apenas e tão só sentir aquilo que me entregas neste momento, como oferta, como lamento. O resto, aquilo que sobra para além do momento, não importa, não se entende, porque de olhos fechados, não vendo, apenas e só sinto, e isso faz a diferença entre ver de olhos fechados ou estar cego de olhos abertos.


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