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 Pastora na própria loucura apascentada ...Data 16/04/2007 22:05:10 | Tópico: Poemas
 
 |  | Chama-me a voz muda, salmourada e funda da madre Terra, onde o magma explode,  incandescente lava,
 numa vasta gama de ocres tonalidades…
 
 Chama-me num frívolo guincho, grito d’abismo
 à beira da serrania do nada.
 Chama-me a multidão, que mais não é do que semente,
 ácido bago de chuva em lenta fermentação.
 Chama-me já ébria a voz da Terra -  a voz das trevas -,
 povoada na mendicidade das larvas
 (Que a noite dos dias se pespegou na cidade)
 Chama-me desabrigada a promiscuidade
 bolorenta dos fungos e dos carunchos nos vitrais.
 Tecem dionisíacas aguarelas...
 
 Rebusco sentido no verso – boémio, indigente -,
 este verso "presente", incolor e incipiente.
 Rebolo-me em desalento, dobro os cotovelos do tempo,
 giro os pés, refaço os passos. (Des) compasso.
 (Re) busco sorrisos tecidos nos teus ausentes braços.Escorregadios.
 
 Não existem!
 
 Entro num estadio cigano entre regressividade
 e evolução. Sempre em contra-mão,
 busco no almanaque, idiossincrasias, predilecções.
 Estanco-me em milenares “boas intenções”…
 
 Enlouquecida, desvairada, demente,
 pastora na própria loucura apascentada,
 puxo por um braço a Negra Lua, faço dela Cinderela.
 Coloco-a a dormir no leito negro da noite.
 De papelotes…
 E, acreditem ou não, na alvorada da manhãzinha
 coloco-a logo à janela, enfeitada de laçarotes…
 Como a linda Carochinha …
 Sem mais. Exactamente!
 
 (Embalo-me assim, nesta magia insana,
 ladainha de menina…)
 
 E, tal qual o João Ratão, acabo eu mesma caldeada,
 - a carne dos ossos separada -, na sopa fervente
 do meu próprio caldeirão …
 
 
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