Chama-me a voz muda, salmourada e funda da madre Terra, 
onde o magma explode,  incandescente lava, 
numa vasta gama de ocres tonalidades…
Chama-me num frívolo guincho, grito d’abismo 
à beira da serrania do nada. 
Chama-me a multidão, que mais não é do que semente,
ácido bago de chuva em lenta fermentação.
Chama-me já ébria a voz da Terra -  a voz das trevas -, 
povoada na mendicidade das larvas
(Que a noite dos dias se pespegou na cidade)
Chama-me desabrigada a promiscuidade 
bolorenta dos fungos e dos carunchos nos vitrais. 
Tecem dionisíacas aguarelas... 
Rebusco sentido no verso – boémio, indigente -,
este verso "presente", incolor e incipiente.
Rebolo-me em desalento, dobro os cotovelos do tempo,
giro os pés, refaço os passos. (Des) compasso.
(Re) busco sorrisos tecidos nos teus ausentes braços.Escorregadios. 
Não existem!
Entro num estadio cigano entre regressividade 
e evolução. Sempre em contra-mão,
busco no almanaque, idiossincrasias, predilecções. 
Estanco-me em milenares “boas intenções”…
Enlouquecida, desvairada, demente, 
pastora na própria loucura apascentada, 
puxo por um braço a Negra Lua, faço dela Cinderela. 
Coloco-a a dormir no leito negro da noite. 
De papelotes…
E, acreditem ou não, na alvorada da manhãzinha
coloco-a logo à janela, enfeitada de laçarotes…
Como a linda Carochinha …
Sem mais. Exactamente!
(Embalo-me assim, nesta magia insana, 
ladainha de menina…)
E, tal qual o João Ratão, acabo eu mesma caldeada, 
- a carne dos ossos separada -, na sopa fervente
do meu próprio caldeirão … 
                
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