À palavra, o que devo

Data 26/11/2008 15:19:01 | Tópico: Textos

A sós, não sabemos beber de um gole só a dura punição do esquecimento; degustar, sem converter em loucura, a face venenosa do desprezo. Conhecemos o duro coração que não nos ama, a nós, ecos magoados que só a montanhas enternecem. Coração aventureiro e gentil, que nos poupou dos perigos que levam à eternidade, dos momentos hediondos que nos prestariam favores, sentados à margem do amanhã, sorrindo de sorrisos e comendo flores... Somos, eu e a palavra, irmãs dessa oração, da fumaça que ascende em corpo e espírito; podemos cantar ao surdo e beijar o lábio insosso que só diz de si.
Brinda comigo, palavra, ao compromisso de nenhum querer; que nós morreremos um dia e essa tristeza há de ficar cumprindo pena, sem quaisquer versos da safra insuspeita que habita em nós.
Nossas são todas as calçadas, todas as esquinas onde nos sentamos para falar de amor; são nossos os lenços de papel sem perfume, palavra, onde a verdadeira lágrima realizou o milagre de traduzir-se.
Dos simples é a paz que nunca alcançaremos e dos justos a razão que nunca haveremos de provar, mas de outros despropósitos inda faremos espelho e nos armaremos, palavra, com as lembranças de novos poemas sem solução...




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