Luso-Poemas
 
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À palavra, o que devo

 
A sós, não sabemos beber de um gole só a dura punição do esquecimento; degustar, sem converter em loucura, a face venenosa do desprezo. Conhecemos o duro coração que não nos ama, a nós, ecos magoados que só a montanhas enternecem. Coração aventureiro e gentil, que nos poupou dos perigos que levam à eternidade, dos momentos hediondos que nos prestariam favores, sentados à margem do amanhã, sorrindo de sorrisos e comendo flores... Somos, eu e a palavra, irmãs dessa oração, da fumaça que ascende em corpo e espírito; podemos cantar ao surdo e beijar o lábio insosso que só diz de si.
Brinda comigo, palavra, ao compromisso de nenhum querer; que nós morreremos um dia e essa tristeza há de ficar cumprindo pena, sem quaisquer versos da safra insuspeita que habita em nós.
Nossas são todas as calçadas, todas as esquinas onde nos sentamos para falar de amor; são nossos os lenços de papel sem perfume, palavra, onde a verdadeira lágrima realizou o milagre de traduzir-se.
Dos simples é a paz que nunca alcançaremos e dos justos a razão que nunca haveremos de provar, mas de outros despropósitos inda faremos espelho e nos armaremos, palavra, com as lembranças de novos poemas sem solução...


 
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Amora
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 26/11/2008 15:39  Atualizado: 26/11/2008 15:39
 Re: À palavra, o que devo
A palavra está em todos os sentidos e sentimentos de quem ama a escrita, Amora.Destaco no teu texto:

"são nossos os lenços de papel sem perfume, palavra, onde a verdadeira lágrima realizou o milagre de traduzir-se."

Assim sinto a palavra: uma forma de traduzi-me.
Bjins, Betha.


Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 26/11/2008 16:27  Atualizado: 26/11/2008 16:27
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: À palavra, o que devo
Tu e a Palavra são irmãs e unas, pela forma como as conheces e como as trabalhas, levando-me a ler-te sempre com ar de espanto e até de muito orgulho.
As palavras por vezes são espelho, outras dizem por nós as frases que a boca encerra e que o coração nega.
Não vou destacar nada do teu texto, porque é no todo um conjunto belo demais, que vai directo para os meus favoritos. Para reler, reler e reler...

Beijo grande Amora linda, sem mais palavras


Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 26/11/2008 16:29  Atualizado: 26/11/2008 16:29
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: À palavra, o que devo
Surges aqui com a pujança habitual.
O teu texto está simplesmente extraordinário, Amora.
Adorei.
Beijos
Vóny Ferreira


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 26/11/2008 18:27  Atualizado: 26/11/2008 18:27
 Re: À palavra, o que devo
Amora, gostei imenso de ler o teu texto, extraordinarimanete bem escrito, nada deves á palavra nem ela a ti, as duas estão eternamente interligadas

beijinho

Luisa Raposo

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