 
  
    	transformação
    	Data 15/01/2009 10:32:51 | Tópico: Poemas -> Sociais
 
  |  transformação
  paulo monteiro
  na escuridão da noite  dois olhos vivos olhavam  duas brasas sob açoite  de algum fantasma brilhavam 
  eram dois olhos profundos  com seu cintilar perdido  como dois pequenos mundos  enormes de um tempo ido 
  eram dois olhos malditos  olhos talvez em tocaia  esperando uns distraídos  para apagar com punhal 
  na escuridão de uma esquina  aqueles olhos brilhavam  e duas mãos sombra fina  uma navalha apertavam 
  dois olhos despreocupados  trazem dois bolsos aos lados  e nos bolsos remendados  alguns cruzeiros contados 
  o cristo da maravalha  seus pobres trapos espalha  em torno de si qual palha  cortada pela navalha   navalha enorme que sai  da escuridão e que cai  sem exclamação nem ai  sobre a garganta de um pai 
  navalha corta com fome  aquele vulto sem nome  depois a prole se some  esmolando atrás da fome 
  havia sangue na rua  junto de um corpo caído  e se achegavam chorando  os filhos do falecido 
  o assassino todos sabem  é morador das favelas  porém não sabem seu nome  e não sabem em qual delas 
  matou porque tinha fome  porém não tinha trabalho  os jornais não o disseram  porém todos sabem disso 
  também sabem que amanhã  esses órfãos sairão  esmolando por aí  e outros pais matarão (do livro inédito eu resisti também cantando)
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