ALMA AUSENTE

Data 20/01/2009 18:56:16 | Tópico: Poemas -> Introspecção

Submerso na procura interminável das coisas
falhei nas palavras desarrumadas na despensa
assustei-me com o acaso da coincidência:
«troca a tua alma velha por uma garrafa»
O verde escuro do vidro cheio de pó e teias
lá estava ao canto do armário com portas descaídas
estava prestes a fazê-lo, mas sempre recusei o fim
- a morte é o fim da vida - mas a lei é assim.
Quem me poderia libertar da banal existência?

Tirei-lhe a rolha e coloquei dentro de si os meus passados
(embora não me lembre reconhecer algum no presente).
Lacrei a chumbo cortiça, como se fecha um tesouro inexistente
e embarquei no próximo barco com mais algumas bestas.
Ventos e brisas envolventes levaram-no por brumas nevoentas.
A alma se despediu do coração e do seu frágil corpo,
ao largo uma garrafa boiava rumo ao princípio,
na condição da grande insensatez do mar profano.

Na deriva das águas espero alguém que leia o que é meu.
Mas como, se a garrafa consigo leva dentro um engano?
Se alguém lhe encontrar um poema pode-lhe chamar seu
dentro do papel branco - maior que o azul das águas -
não há nada escrito nem por escrever ou fale de mim.
Com alguma imaginação e fantasia, poderei até acreditar sim.
(as serias estão presas em raios de sol, não podem faze-lo).

Mas só na minha despensa alguém poderá abrir a garrafa
e no seu bafo descodificar as palavras a provar o vinho quente
(embriagadas denunciando e entregam a minha alma ausente).



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