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 MordaçaData 26/01/2009 20:43:47 | Tópico: Poemas -> Desilusão
 
 |  | Não quero mais escrever Palavras que imponham ao mundo o silêncio dos meus braços
 Nem deixar no eco as chamas do paraíso invertido
 Que plantei dentro de mim.
 Não quero voltar a olhar por dentro das miragens
 Para encontrar nos olhos do abismo as asas da desilusão
 Que me mutilou a voz
 E adormeceu nos destroços do meu túmulo menor.
 Não quero mais plantar no meu corpo as cicatrizes do deserto,
 As mãos que me despertam a mordaça do destino
 E estrangulam o meu grito no silêncio dos esquecidos
 Que apenas em sonhos voam como asas na escuridão.
 
 Serei talvez o contraponto da minha fuga,
 Talvez apenas o silêncio de uma sinfonia flagelada
 Pelos contratempos do olhar,
 Talvez gaivota perdida em fundas covas de corvo,
 Esfinge invertida em céus de Fénix morta
 Nos cadáveres vencidos de uma batalha sem espaço,
 De um sonho sem lar.
 
 Não quero, mesmo assim, cantar nas pautas da miragem
 A minha elegia de céu
 Para chorar apenas gritos no soluçar dos primórdios
 Do adeus que escolheu o meu silêncio.
 Não quero mais morrer em braços de cruz magoada
 E abrir nas chagas de um verso o desalento dos caídos,
 Pois não sou senão uma lágrima banhando os lábios do anjo
 Que canta por dentro da morte
 E morre também.
 
 
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