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Poemas -> Desilusão : 

Mordaça

 
Não quero mais escrever
Palavras que imponham ao mundo o silêncio dos meus braços
Nem deixar no eco as chamas do paraíso invertido
Que plantei dentro de mim.
Não quero voltar a olhar por dentro das miragens
Para encontrar nos olhos do abismo as asas da desilusão
Que me mutilou a voz
E adormeceu nos destroços do meu túmulo menor.
Não quero mais plantar no meu corpo as cicatrizes do deserto,
As mãos que me despertam a mordaça do destino
E estrangulam o meu grito no silêncio dos esquecidos
Que apenas em sonhos voam como asas na escuridão.

Serei talvez o contraponto da minha fuga,
Talvez apenas o silêncio de uma sinfonia flagelada
Pelos contratempos do olhar,
Talvez gaivota perdida em fundas covas de corvo,
Esfinge invertida em céus de Fénix morta
Nos cadáveres vencidos de uma batalha sem espaço,
De um sonho sem lar.

Não quero, mesmo assim, cantar nas pautas da miragem
A minha elegia de céu
Para chorar apenas gritos no soluçar dos primórdios
Do adeus que escolheu o meu silêncio.
Não quero mais morrer em braços de cruz magoada
E abrir nas chagas de um verso o desalento dos caídos,
Pois não sou senão uma lágrima banhando os lábios do anjo
Que canta por dentro da morte
E morre também.

Semper Fidelis...

Carla Ribeiro

 
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Carla Ribeiro
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Enviado por Tópico
Carla Costeira
Publicado: 26/01/2009 22:37  Atualizado: 26/01/2009 22:37
Colaborador
Usuário desde: 16/02/2007
Localidade: Sintra
Mensagens: 918
 Re: Mordaça
soberbo, Carla!!! Uma prosa de encanto que me fascinou por completo! parabéns!!!

Beijinhos :)

Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 28/01/2009 22:48  Atualizado: 28/01/2009 22:48
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8104
 Re: Mordaça
Gostei muito de ler. Tens um sentido enorme nas palavras...Beijinho aí para Vila Real terra de meus avós! São

Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 28/01/2009 23:01  Atualizado: 28/01/2009 23:01
Colaborador
Usuário desde: 22/09/2008
Localidade: Ansião
Mensagens: 5058
 Re: Mordaça
Carla,

Que essa mordaça que refere em tão sublimes palavras, nunca se estenda a seus braços e suas mãos, para que lhe seja permitido escrever, sempre.
Fá-lo soberbamente.
Beijinho

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