Catarse

Data 09/02/2009 12:35:23 | Tópico: Poemas -> Sombrios

A pugna entre corpo e alma
É a fantasia lúcida
E o brinquedo torto
Das divindades.

Carrego as marcas das trincheiras
Cada cicatriz aponta o rumo,
Dita a escolha viciada
Da liberdade.
O que quero
É o que não faço.

Como arrancar as cicatrizes?
Como desatar as amarras?

Devo enfrentar mais uma vez
O punhal que fincou a carne
Olhar o brilho da lâmina
E experimentar a dor
Como o emplasto.
Ah! Santa moderadora dos desejos-
A Dor-
Purifica este espírito
Tão carnal
Quanto o desejo ganancioso
Do Demônio.

Cortarei a carne mais uma vez,
Espontaneamente,
Como sempre foram as marcas do meu corpo.
Mas agora refugiar-me-ei
No gole do Absinto
Embriagado pelo doce sabor da Cura.
Enfrentarei o suicídio e o assassínio
Como a dois bons companheiros
De conselhos dúbios e proveitosos.

Devo ter coragem...
Afasta de mim este cale-se!
Já não basta todo o sangue derramado
Para que eu estivesse aqui?

Tenho que continuar
E suportar a síncope,
Essa esmola para aturar a mutilação.
Talvez quando eu acordar
O mundo tenha mudado...
Pelo menos o meu.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=70199