Casa Vazia

Data 08/05/2007 14:53:41 | Tópico: Poemas -> Desilusão

Tomei este degrau como meu.
Um pouco de descanso;
Ver o tempo passar,
Sentir as pessoas atravessarem-se.

Lisboa é cidade
De bela fotografia.
Cada esquina, cada surpresa.
Cidade de mãos ágeis
Ou do simples acaso.

Ontem sentei-me à Tua porta
Sem nada esperar.
Já lá ninguém mora
E nunca antes esteve ocupada.

Há sempre aquela quase esperança,
Uma predisposição para o apelo
Que há-de surgir
Ninguém sabe quando.
E nunca vem.

Esta casa que não compraste
(Foi-te oferecida (É fácil
Oferecer a ninguém)),
Está sempre vazia,
Sempre cheia.

Cheia de silêncios, dores,
Orações, lamentos; às vezes
Até algumas graças
De quem não tem a quem agradecer.

Está sempre vazia. Sempre,
Com mais vazios de outros
E acumulam-se. É um vazio extenso.

Lá moram rumores,
Imagens em sofrimento,
Lembrança do que Te devemos,
E há dores que não resolves.

Hoje pensei em escrever uma carta,
Pensei em cocktails,
Pensei no coma da vida
E o paradoxo da vida em coma.

Se fosses tão amarga,
Teria tempo de retroceder?
Seria bem sucedido?

Continua o peso dos outro que amo
E pesam tanto que não tomo decisões.
Há também a dor pós retrocesso,
Se o houvesse...

Talvez soubesse aí
Se na Tua casa morou gente,
Algo, alguém.

A mim, continua a parecer-me vazia,
De um vazio sufocante.

O único objectivo é dar vida
Para a vida, vida dar.
Não há um sentido.
" Crescei e multiplicai-vos".

A todos se aplica a mesma regra,
Não há nada para lá de além.
Todos se conformam.
" Crescei..." Para quê?

Assim são os vírus
Que aniquilamos,
Crescem, multiplicam-se,
Crescem,...

Nós tínhamos-te a Ti
Agora sei tudo ser mentira

13/03/2007


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