Poemas -> Desilusão : 

Casa Vazia

 
Tomei este degrau como meu.
Um pouco de descanso;
Ver o tempo passar,
Sentir as pessoas atravessarem-se.

Lisboa é cidade
De bela fotografia.
Cada esquina, cada surpresa.
Cidade de mãos ágeis
Ou do simples acaso.

Ontem sentei-me à Tua porta
Sem nada esperar.
Já lá ninguém mora
E nunca antes esteve ocupada.

Há sempre aquela quase esperança,
Uma predisposição para o apelo
Que há-de surgir
Ninguém sabe quando.
E nunca vem.

Esta casa que não compraste
(Foi-te oferecida (É fácil
Oferecer a ninguém)),
Está sempre vazia,
Sempre cheia.

Cheia de silêncios, dores,
Orações, lamentos; às vezes
Até algumas graças
De quem não tem a quem agradecer.

Está sempre vazia. Sempre,
Com mais vazios de outros
E acumulam-se. É um vazio extenso.

Lá moram rumores,
Imagens em sofrimento,
Lembrança do que Te devemos,
E há dores que não resolves.

Hoje pensei em escrever uma carta,
Pensei em cocktails,
Pensei no coma da vida
E o paradoxo da vida em coma.

Se fosses tão amarga,
Teria tempo de retroceder?
Seria bem sucedido?

Continua o peso dos outro que amo
E pesam tanto que não tomo decisões.
Há também a dor pós retrocesso,
Se o houvesse...

Talvez soubesse aí
Se na Tua casa morou gente,
Algo, alguém.

A mim, continua a parecer-me vazia,
De um vazio sufocante.

O único objectivo é dar vida
Para a vida, vida dar.
Não há um sentido.
" Crescei e multiplicai-vos".

A todos se aplica a mesma regra,
Não há nada para lá de além.
Todos se conformam.
" Crescei..." Para quê?

Assim são os vírus
Que aniquilamos,
Crescem, multiplicam-se,
Crescem,...

Nós tínhamos-te a Ti
Agora sei tudo ser mentira

13/03/2007
 
Autor
Hugo Cabelo
 
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Enviado por Tópico
Junior A.
Publicado: 08/05/2007 15:23  Atualizado: 08/05/2007 15:25
Colaborador
Usuário desde: 22/02/2006
Localidade: Mg
Mensagens: 890
 Re: Casa Vazia
Bom, com cá a dor me é afavél.
De longas,(por não dizer todas) as horas.
Apeteceu-me comentar a casa, a vida, a via.
Por todos estes despojos, que passamos,
E que a cada dia vai-se perdendo os despojos,
Ao peito, tudo vai-se esvaindo, aniquilando.
E novos olhos vão-se encetando a mágoa.
Que outros horizontes vai pintando.
Mas assim, só, á pensar, sempre vai se indagando
E por mais que não se tenha resposta,
Custa a alma não indagar. Custo o corpo se aquietar, custa a falta não amar.
E a casa, por hora vazia de sentimentalidades, afecto, carinho e verdade. Se preenche em falta, em solidão, em desapego, vil maldade.

"Nós tínhamos-te a Ti"
A mim tanto sentido, eu e a vida, eu e o coração, eu e a Felicidade, tínhamos. Hoje apenas nos temos, em desgosto, apenas nos suportamos.

Mui bueno Poeta,
Bem chegaste, além do dez que lhe é devido,
Dou-te as boas vindas,
Dou-te a gratidão por dar-me tal ensejo aos olhos.

Forte abraço.