Manifesto anti-poemas de amor

Data 13/03/2009 14:24:30 | Tópico: Textos

Poemas de amor, cartas de paixão e nostalgia sem fim, tristeza sempiterna. Adoras arrastar a tua alma pelo pó da terra. Se tens o vento a correr-te nas veias e um mundo inteiro no lugar do coração, porque finges ser do tamanho de um punho que bombeia fechado lágrimas de dor?

Tens dentro do peito a fonte da luz sem fim, a nascente de onde brotam todos os deuses. A árvore da vida de onde cai o fruto da infinita paz faz crescer raízes no teu ser mais profundo, mas ainda sim curvas-te perante as fragilidades da personalidade humana. Diante de ti, o próprio Divino teria de se fazer vergar e orar em submissa adoração. Que imaginas então dizer quando escreves essas ridículas palavras de triste romantismo?

Cada quadra de amor é um pedido de socorro, é um salva-me desta solidão, abraça-me para longe daqui e faz-me sentir maior. Mas se no teu rosto está o rosto do mundo e nos teus olhos o brilho de mil astros, a quem pensas estender a mão quando te inclinas nos versos que escreves?

Esquece essas infantilidades da alma, espasmos de adolescência de um espírito que nasceu eterno. Vê quem és e despe-te das roupas que não te pertencem. Nu serás infinitamente mais glorioso. Quando disfarçado pelas máscaras dos sentimentos mundanos, o teu ser universal parece uma mera fotografia tirada ao sol. Rasga-te no papel e brilha como verdadeiramente és.


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