
Regresso a um tempo medievo
Data 19/05/2007 22:02:29 | Tópico: Poemas -> Sombrios
| Regresso e desço a montanha do vento em ventania.
Esta em que as folhas dos lilases têm sortilégios cor de enxofre. Onde os vigores doridos pelos tempos da antemanhã se escorrem lentos em cantos bélicos na boca da saliva de auroras indecisas. Nas veias e nos epitáfios arrolados das pedras angulares. Desço descalça os lugares onde jazem monstros enterrados em noites cruas de luar.
Regresso no silêncio do verbo medievo no vácuo abstracto, no sub-solo, no substrato cavernoso das raízes em putrefacção. Em busca d'olfactos, dos cheiros. De espigueiros - os que me preenchem lembranças -, aguarelas, serras, montanhas amarelas.
Regresso neste cântico ousado e profano, neste canto pagão, a esta porta transfronteiriça entre o hoje e o amanhã. Regresso a passo lento à utopia, à visão. ... Que não existe em mim espaço a um só passo se não sinto sobre este macilento ombro o conforto absoluto da tua mão.
Tu és o meu sonho. O peito vasto, franco, aberto, adivinhado oferto, onde regresso quando o medo é abutre, gavião!
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