
EXCERTOS - Canto Geral
Data 15/04/2009 16:38:15 | Tópico: Poemas
| EXCERTOS – Canto Geral
O Fugitivo
XII A todos, a vós Os silenciosos seres da noite Que tomaram a minha mão nas trevas, a vós, Lâmpadas De luz imortal, linhas de estrela Pão das vidas, irmãos secretos, A todos, a vós, Digo: não há obrigado, Nada poderá encher as taças Da pureza, Nada pode Conter todo o sal nas bandeiras Da primavera invencível Como vossas caladas dignidades. Somente Penso Que fui talvez digno de tanta Singelez, de flor tão pura, Por eu ser vós talvez, isso mesmo, Essa migalha de terra, farinha e canto, Essa massa natural que sabe De onde sai e onde fica. Não sou um sino de tão longe, Nem um cristal enterrado tão profundo Que não possas decifrar, sou apenas Povo, porta escondida, pão escuro, E quando me recebes, recebes A ti mesmo, a esse hóspede Tantas vezes batido E tantas vezes Renascido. A tudo, a todos, A quantos não conheço, a quantos nunca Ouviram este nome, aos que vivem Ao largo de nossos grandes rios, Ao pé dos vulcões, à sombra Sulfúrica do cobre, a pescadores e labregos, A índios azuis na margem De lagos cintilantes como vidros, Ao sapateiro que a esta hora interroga Pregando o couro com antigas mãos, A ti, ao que sem saber me esperou, Eu pertenço e reconheço e canto.
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