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EXCERTOS - Canto Geral

 
EXCERTOS – Canto Geral

O Fugitivo

XII
A todos, a vós
Os silenciosos seres da noite
Que tomaram a minha mão nas trevas, a vós,
Lâmpadas
De luz imortal, linhas de estrela
Pão das vidas, irmãos secretos,
A todos, a vós,
Digo: não há obrigado,
Nada poderá encher as taças
Da pureza,
Nada pode
Conter todo o sal nas bandeiras
Da primavera invencível
Como vossas caladas dignidades.
Somente
Penso
Que fui talvez digno de tanta
Singelez, de flor tão pura,
Por eu ser vós talvez, isso mesmo,
Essa migalha de terra, farinha e canto,
Essa massa natural que sabe
De onde sai e onde fica.
Não sou um sino de tão longe,
Nem um cristal enterrado tão profundo
Que não possas decifrar, sou apenas
Povo, porta escondida, pão escuro,
E quando me recebes, recebes
A ti mesmo, a esse hóspede
Tantas vezes batido
E tantas vezes
Renascido.
A tudo, a todos,
A quantos não conheço, a quantos nunca
Ouviram este nome, aos que vivem
Ao largo de nossos grandes rios,
Ao pé dos vulcões, à sombra
Sulfúrica do cobre, a pescadores e labregos,
A índios azuis na margem
De lagos cintilantes como vidros,
Ao sapateiro que a esta hora interroga
Pregando o couro com antigas mãos,
A ti, ao que sem saber me esperou,
Eu pertenço e reconheço e canto.


Pablo Neruda
( 12/07/1904 — 23/09/1973)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

 
Autor
Pablo Neruda
 
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