Nada existe que não seja

Data 28/05/2007 22:01:58 | Tópico: Poemas -> Sombrios

Nada existe que não seja
Desânimo
Desalento
Inacção, esmorecimento,
e o verbo cardo, este que rabisco
desenhado, impresso
no pano-cru de um tempo esfiapado,
que desaparece, lesto e pardo, inane,
descontinuado, a traço largo.
Um tempo inútil que carrego na bagagem -
Karma, carga, sina, fardo.

Caminho-me na noite parada,
vagueio memórias, luares na madrugada,
lugares sem gestos, agrestes,
sem norte, sem bóreas.
Sem coisa alguma ou nada que não seja
uma existência desumanizada,
fabulada,
em que apenas e apesar de querendo,
não esqueço, esquecendo-me de mim,
de tudo e do meu mundo:
- Este arco-íris
tinto de negro permanente,
elevado no beiral rubro de um telhado
a amarrar, a escorar, a terra e o mar,
nesta agonia angulada de dormir
acicatada,
de dormir semilíquida, pastosa,
lívida, quase verde,
quase roxa,
na sede de uma alvorada.

De levitar cinzenta estrada,
na deambulação rasa da água.




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