
Acasos de nós
Data 20/05/2009 08:34:57 | Tópico: Poemas
| Terça, 5 Junho 2007 às 11:28 Somos acasos de nós
Há carinhos escondidos Quando dizemos severamente Tu és descartável!
E há medos, angústias Tremores ambíguos.
Só queremos ser deuses De nós na vida Com se fôssemos infalíveis Pensando “ex cathedra” Na verdade única Construída no desalento Do que somos E não queremos. E escondemos de nós Os sentimentos que crepitam O prazer de estar. Não queremos lenitivos.
Somos superiores Temos a Verdade Una e universal. Apagamos a realidade Indivisa em todos E por todos negada Como se a catarse Doesse nos sonhos Que não conseguimos.
Somos pedantes Intelectuais baratos Self-made poetas De ocasião na ocasião.
Destruímos tocando Nas teclas erradas do piano Somos uma flauta Que não conseguimos Afinar no “ego” excêntrico Onde nos colocamos Em trono de falhanços.
Somos mestres de coisa alguma Que não fica e fica Que rejeitamos fugazes Armados em nós Como guardiães do templo Das verdades inacabadas.
Perdemo-nos sem admitir O caminho errado de nós Na vida que inventamos Nos sopapos que nos damos Na quimera do que queremos E não podemos nunca Ir mais além que a morte Dos sonhos perdidos Na intempérie dos sentidos.
Valemo-nos de nós Como estrelas E vivemos, sim, Na luz difusa que querem dar-nos Como cometas de adversidades Cometidas e sofridas Na pele que escondemos Sob os farrapos que usamos.
Somos aviários longos Onde nos fazem crescer Quimicamente na pressa De sermos únicos E somos iguais a todos. Somos linhas de montagem Monitorizados por robots Produzidos em série Variando apenas na cor Com que nos vêem exteriormente.
Somos produtos acabados Amorfos porque repetidos Na saciedade fabricada Pela sociedade consumista Que de nós leva o importante E ficamos serenamente Ainda que artificialmente atentos À compita com a diferença Que se afastou inexoravelmente.
Queremos ter sonhos Sonhamos ter vida própria A vida consome-nos No bel-prazer do rótulo Por encomenda. E nunca somos o que somos.
Nunca servimos o amo certo.
Sempre estamos ali Armados na indiferença de quem é O mar, o infinito, o amor E rejeitamos a mão amiga E fervemos na descrença De não estarmos Em disponibilidade Com os sentimentos.
Somos o quê, afinal?
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