Exaltação da leitura

Data 27/05/2009 15:29:14 | Tópico: Crónicas


Há talvez em nós a vontade de ser melhor que os outros, há sempre em nós a exaltação do ego, e eu digo, preocupante seria se fosse ao contrário. Não acredito em falsas modéstias, quando alguém se refere ao que faz como “gatafunhos”, quando alguém classifica o que escreve como pueris actos de falso escriba. Todos sem excepção temos a noção que escrevemos “umas merdas” e gostamos de partilhar essas coisas com os outros e gostamos de reconhecimento, e gostamos em última análise de ser lidos. E se gostamos disso não temos que nos armar nos mais modestos do planeta, não temos que nos misturar com quem faz letras para as canções do Emanuel ou do Toy, com todo o respeito que tenho pelos visados. Tenho para mim que nos devemos exaltar nos gostos que cultivamos… Mas… E há sempre um “mas”… Que nenhum poeta (ou quem se ache como tal) desta casa pense que vai longe sem a noção de leitura. Sou acima de tudo leitor, refiro-o muitas vezes, não escrevo por ter especial inclinação ou por ser tocado pelo golpe de génio, escrevo por muita leitura e sentir que posso escrever as tais “merdas” sem dever nada a quem se sente tocado pela mão de génio. Sinto que neste site anda muita, mas mesmo muita, gente sem noção de leitura. John Steinbeck dizia que o seu segredo era ler, ler, ler e escrever, escrever deitar fora, voltar a escrever, deitar fora, voltar a escrever e até que por milagre estava ali o texto que ele queria. Noto nos “luso-poetas” uma falta imensa de leitura e isso faz-me temer pelo futuro do site. Vejo alguns poetas e/ou poetisas que escrevem quase por atacado sem darem por ela, que repetem até à exaustão conceitos pré-concebidos, ideias e metáforas que dá vontade de meter os dedos à boca para provocar o vómito perante gente que se acha o máximo e pratica um auto-plágio constante. Eu recomendo a leitura como anti-alérgico a essas maleitas, recomendo até a leitura dos seus próprios textos de uma forma distanciada como se fosse outro a escrevê-lo. Recomendo uma paragem profiláctica na busca de novas ideias e novos conceitos. Como encontrá-los? Lendo, lendo, e lendo mais… romances, poesias e até jornais… sim, jornais, porque também noto que a fasquia cultural da actualidade está nivelada muito por baixo e ninguém que se ufane de bom escritor pode ignorar a actualidade que o envolve. Nota-se pouco intervencionismo e muita poesia romântico-decadente que pisa e repisa conceitos já de si gastos nas brumas da memória. Será que um amor não pode ser feliz? Será que tem que ter sempre aquela seta ridícula a atravessar o coração? Vá lá… sejam poetas. A poesia é o autêntico real absoluto. Quem o disse estende-o á escrita em geral com toda a certeza… Sejam poetas…



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