
PAISAGEM SEM PLUMAS
Data 29/05/2009 14:11:53 | Tópico: Poemas -> Reflexão
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Sinto o olor de uma matilha no encalço do Girassol: A sequidão por soçobrá-lo é tamanha Que a canina imagem faminta e ferina Qual se forma na fonte da minha espiritual retina, Apesar de intangível por a saber ainda bem longínqua, Penetra-me na verve como dantesco voraz raio-trovão E me lancina atrozmente a razão.
No entanto, O Girassol está completamente despido do medo: Ele espera os seus algozes belicosos, morteiros Tal como se estivesse dormindo calmamente Sob o aconchego da transparente armadura lúcida, Reino da fleuma, da sabedoria, do candor e da bravura.
Então começo a crer Que a hoste dos sóis Da Resistência Desarmada Estava envolta pelo manto Desta balsâmica e benfazeja aura Ao encarar a fronte vociferante Dos promotores malévolos da dama Caetana Sorte.
Ás vezes, Sou acometido de uma forte impressão: A impressão de que os entes Que trazem sobre o semblante Estes predicados do solar sereno horizonte Não morrem quando recebem o derradeiro golpe; Antes, sofrem uma poderosa metamorfose: De outros corpos mentais tomam posse, Fazendo pulular jardins do iluminado Girassol Por toda parte.
Afinal, eu reflito: Mesmo que a matilha de cães famintos Alcance e trucide o Girassol, Sua prole --- tão lauta e prolífica --- Há de nos alimentar o corpo, A derme, o córtex, o coração: Sempre resplandecente e nada inerte, o crepúsculo do olhar vão!
Portanto o Girassol concebe o mundo Conforme os olhos de quem contempla A paisagem mais límpida, cristalina: Sem as plumas da obtuosidade, da dúvida E da bruma da obliqua indulgência soturna.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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