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PAISAGEM SEM PLUMAS

 
 



Sinto o olor de uma matilha no encalço do Girassol:
A sequidão por soçobrá-lo é tamanha
Que a canina imagem faminta e ferina
Qual se forma na fonte da minha espiritual retina,
Apesar de intangível por a saber ainda bem longínqua,
Penetra-me na verve como dantesco voraz raio-trovão
E me lancina atrozmente a razão.


No entanto,
O Girassol está completamente despido do medo:
Ele espera os seus algozes belicosos, morteiros
Tal como se estivesse dormindo calmamente
Sob o aconchego da transparente armadura lúcida,
Reino da fleuma, da sabedoria, do candor e da bravura.


Então começo a crer
Que a hoste dos sóis
Da Resistência Desarmada
Estava envolta pelo manto
Desta balsâmica e benfazeja aura
Ao encarar a fronte vociferante
Dos promotores malévolos da dama Caetana Sorte.



Ás vezes,
Sou acometido de uma forte impressão:
A impressão de que os entes
Que trazem sobre o semblante
Estes predicados do solar sereno horizonte
Não morrem quando recebem o derradeiro golpe;
Antes, sofrem uma poderosa metamorfose:
De outros corpos mentais tomam posse,
Fazendo pulular jardins do iluminado Girassol
Por toda parte.


Afinal, eu reflito:
Mesmo que a matilha de cães famintos
Alcance e trucide o Girassol,
Sua prole --- tão lauta e prolífica ---
Há de nos alimentar o corpo,
A derme, o córtex, o coração:
Sempre resplandecente e nada inerte, o crepúsculo do olhar vão!


Portanto o Girassol concebe o mundo
Conforme os olhos de quem contempla
A paisagem mais límpida, cristalina:
Sem as plumas da obtuosidade, da dúvida
E da bruma da obliqua indulgência soturna.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA






SOU NATURAL DA CIDADE DO SALVADOR, BAHIA. NASCI EM JUNHO DE 1982.
NA VERDADE, SOU UM MENTECAPTO QUE TROPEGA PELAS
ALAMEDAS DA POESIA.
http://twitter.com/jessebarbosa27
http://www.myspace.com/nirvanapoetico
http://poetadorjesse.zip.net/
http://si...

 
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jessébarbosadeolivei
 
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Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 29/05/2009 18:24  Atualizado: 29/05/2009 18:24
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: PAISAGEM SEM PLUMAS
Excelente, maravilhoso, meu querido Poeta!

"Afinal, eu reflito:
Mesmo que a matilha de cães famintos
Alcance e trucide o Girassol,
Sua prole --- tão lauta e prolífica ---
Há de nos alimentar o corpo,
A derme, o córtex, o coração:
Sempre resplandecente e nada inerte, o crepúsculo do olhar vão!"

Vóny Ferreira

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/05/2009 19:51  Atualizado: 29/05/2009 19:53
 Re: PAISAGEM SEM PLUMAS
Bela reflexão, amigo, sobre a 'vida' em si. Sobre o girassol que independe da mão humana
para florescer, renascer.

E interpreto teu poema como um jogo fantástico
na dualidade dos sentires, ou, ver e enxergar, concomitantemente.

Não será a persistência do girassol similar
à nossa esperança?


Lindos pensares, Jessé. Maior que a riqueza de seu vocabulário são seus voos introspectos.


Abraço.

rege

Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 29/05/2009 21:21  Atualizado: 29/05/2009 21:21
Membro de honra
Usuário desde: 09/05/2008
Localidade: Carregado-Alenquer
Mensagens: 11253
 Re: PAISAGEM SEM PLUMAS
Um poema reflexão com a metáfora do girassol muito bem estruturada e com uma mensagem brilhante.

Beijos

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/05/2009 23:44  Atualizado: 29/05/2009 23:45
 Re: PAISAGEM SEM PLUMAS
Meu amigo Jessé, senti algo sobrenatural nestes versos:

"A impressão de que os entes
Que trazem sobre o semblante
Estes predicados do solar sereno horizonte
Não morrem quando recebem o derradeiro golpe;
Antes, sofrem uma poderosa metamorfose:
De outros corpos mentais tomam posse,
Fazendo pulular jardins do iluminado Girassol
Por toda parte."

Não é apenas uma impressão, ela acontece de fato, a vulnerabilidade está por toda a parte. Adorei ler, bjos da sua fã.