MEU LUSO DO MÊS DE JUNHO É EDILSON JOSÉ DE OLIVEIRA

Data 01/06/2009 18:19:57 | Tópico: Textos

Retirado pela administração a pedido do usuário Edilson.

<b>MEU LUSO DO MÊS DE JUNHO É EDILSON JOSÉ DE OLIVEIRA

<img src=http://www.luso-poemas.net/uploads/thumb_pic_2454_49c644f8e188d.jpg>

POETA, HISTORIADOR, PROFESSOR E GUERREIRO.

Edilson José de Oliveira: nascido a 12 de maio de 1972 na cidade de Assis, SP. Filho de Antonio de Jesus e Nair Laureano, caçula de uma "ninhada" de quatro. Aos seis anos de idade muda-se para a cidade de Ourinhos porque o pai foi ser gerente agrícola em uma usina de açúcar e álcool.
Nessa época, o pai o levava para o campo, onde notava o sofrimento dos trabalhadores rurais (cortadores de cana). Cursou o ensino fundamental em escola muito boa, mesmo sendo em tempos de ditadura militar, e, o ensino sendo tecnicista, não valorizava o pensamento próprio, a reflexão, o diálogo, enfim...
Volta para Assis aos 14 anos pelo fato de o pai estar desempregado e a família passar por dificuldades financeiras.
Motivo que o levaria a trabalhar em supermercados como pintor de paredes (gosta de fazer isso até hoje), como ajudante do avô e do tio nas plantações de algodão e de soja.
Nesse ínterim, mais ou menos aos 15 anos, descobre o gosto pela escrita, sempre tratando de questões sociais, pois via o sofrimento dos trabalhadores do campo.
Termina o ensino médio no período noturno.
Momento em que se interessa pelo Punk inglês e sua influência sobre o Punk de Brasília, de São Paulo... Fica bitolado no gênero e depois no Rock nacional dos anos 80 (bandas como Legião Urbana, Plebe Rude e Golpe de Estado passam ser suas referências musicais e comportamentais).
Aos vinte anos começa cursar história na Unesp (Universidade Estadual Paulista), de Assis. Ali transforma-se em socialista convicto. Filia-se ao PT e parte para as "lutas políticas". Porém, se desencanta com a política partidária devido às corrupções que nota, mas nunca deixando de ser político.
Termina a universidade e algumas especializações.
Nessa ocasião (início dos anos 90) torna-se pai pela primeira vez, aos 22 anos, de uma menina chamada Priscila. Casa-se. Há seis anos atrás nasce seu segundo filho, Ícaro.
Hoje trabalha como Professor de História na rede pública de SP e em colégios particulares...
Adora a profissão que não é tão gratificante do ponto de vista financeiro, mas edificante do ponto de vista humano.
Colaborou com alguns textos em revistas universitárias e em livros de alguns amigos.
Espera o momento certo para tentar publicar seu livro, pois só agora acha que está chegando perto de um estilo que considera próprio.
Gosta de futebol (enquanto manifestar-se cultural). Torce pelo São Paulo Futebol Clube.
(Hoje reside na cidade de Assis, SP).

Vídeo: Legião Urbana. Música: ‘Perfeição’. Uma das preferidas e marcantes para o Edilson. Ele a considera o Hino Nacional!

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1 -Aos quinze anos você despertou para a escrita,
Motivada pela desigualdade social e o serviço
braçal dos trabalhadores do campo.
Em 2009, como definiria essa profissão antiga,
que agora está sendo substituída por máquinas?

Está é uma questão que me deixa de “cabelo em pé”, muito preocupado. A questão da substituição da mão-de-obra pela máquina remonta a Revolução Industrial. A idéia de que progressivamente todo o trabalho humano pudesse ser substituído por uma máquina, já no século XVIII, amedrontava a classe operária. Na época, surgiu o Ludismo, movimento liderado por Nedd Ludd, em que os operários organizados, tinham como principal forma de luta, a destruição de máquinas. Desde o advento da revolução industrial, o processo de substituição do trabalho humano por máquinas nunca mais parou, atingindo atualmente o seu auge com a revolução da micro-eletrônica,que por meio dos computadores, é capaz de substituir, até mesmo, o trabalho antes realizado pelo intelecto humano.
Fico aqui me perguntando: será que no futuro surgirá um movimento neoludista ? Quem viu o filme A.I – Inteligência Artificial ? No filme, num futuro não muito distante, robôs altamente desenvolvidos são capazes de imitar todos os feitos humanos, o que provoca uma reação violenta de pessoas, num espetáculo neoludista de destruição desses autômatos.
Que viagem... (riso de preocupação) Pisando agora em terra firme, em minha região tenho convivido com essa questão. Cortadores de cana, do meu município, já enfrentam a diminuição da oferta de trabalho, por causa da introdução de máquinas ceifadeiras no corte da cana. Um dilema, portanto, tem se colocado: por um lado trata-se ainda de um trabalho marcado pela exploração, de característica braçal, mal remunerado, que exige esforço físico extremo. De outro lado, a introdução de máquinas no corte da cana, deixando um exército de mão-de-obra desempregada, consolidando o chamado desemprego estrutural, ou seja, o desaparecimento permanente de postos de trabalhos . Como resolver este impasse? Quais problemas sociais decorreriam desse estado de coisas?
Parece-me ser esse, um processo inevitável. O que fazer então? Não sei! O que sei é que vejo cada vez mais gente à “beira do caminho”. A única coisa que consigo pensar é no Estado agindo, criando talvez, mecanismos para a reciclagem dessas pessoas que gradativamente estão perdendo seus empregos. Afinal, para que serve o Estado não é? É dureza minha amiga, pois nem o tal “Estado do bem estar social” temos mais. Tudo se vende ao capital! Enfim, é o preço que estamos pagando, atolados até o pescoço nesta “democracia neoliberal”. E não consigo ver céu de brigadeiro para esta questão. Não mesmo...




2 - Na fase socialista ativo, filiado ao PT, você
teve esperanças de mudar o curso da história
(pelo menos aí na sua cidade), mas foi desarmado ante ao mundo de corrupção.
Você tinha dignidade e consciência.
O que o Edílson extraiu de tudo isso?


No ambiente universitário brasileiro vivenciado por mim, particularmente no estudo de história, era inevitável não se converter ao marxismo. Como dizia um amigo, Marx estava para as ciências humanas como Einstein estava para a Física. Para muitos jovens, mesmo nos anos 90, sua teoria econômica dava conta de explicar as mazelas do capitalismo, e sua práxis, que propunha a ação revolucionária, acendia os ânimos, talvez não mais de toda uma geração, mas de alguns grupos, com toda a certeza!
Como você bem sabe, havíamos vivido no Brasil um longo período de repressão política, imposta à sociedade brasileira pela ditadura militar, que se estendeu até 1985. Sentindo-se livre dessa camisa de força institucional, muitos vislumbravam a possibilidade de novamente participar das decisões políticas do país. Surge a “esperança”, a versão socialista tupiniquim na figura do Partido dos Trabalhadores (PT), nascido dos movimentos sindicais dos operários metalúrgicos da indústria automobilística de São Paulo. Dessa militância partidária, resultou então “o atual predomínio” da esquerda na política brasileira e a eleição de Luís Inácio Lula da Silva para presidente do Brasil.
No entanto, a ascensão do “socialismo” no Brasil foi, ao meu ver, anacrônica. Ora, enquanto aqui, a "esquerda" ascendia ao poder, no Leste Europeu, o socialismo já havia encontrado seus limites. Os anos 90 viria conhecer o débâcle da União Soviética. Tudo parecia, então, indicar que o capitalismo havia triunfado. Mas, ainda havia esperança! Porém, nossa “esquerda muito cuidadosa”, não esqueceu de enfiar a corrupção na mala, justificando tal ato, como fundamental para o “bem estar futuro”. (Pausa. Estou com náusea...).
Hoje, ao voltar meus olhos para o chamado “socialismo real”, percebo o quanto ele se afastou dos ideais socialistas, daquilo que eu desejava. Os expurgos genocidas praticados por Stalin, a ditadura uni-partidária do regime comunista e a repressão ideológica causam-me enorme desapontamento. O socialismo real afrontara meu marxismo acadêmico. Eu já não me sentia confortável na “ideologia que queria para viver”, parafraseando o grande Cazuza.
Enfim, depois de algumas lembranças, posso lhe dizer que restou em mim, ainda, os princípios nucleares do ideal socialista, ou seja, a busca da igualdade social, a necessidade de conservar a consciência crítica, a importância da ação do sujeito histórico e a noção clara da exploração do trabalho.


3 - Você é professor e aqui no Brasil e, em qualquer
parte do mundo, os professores são a plataforma,
a base da educação, mas são mal remunerados.
O que você diria aos governantes se tivesse a
oportunidade de defender sua profissão?

Essa é uma pergunta espinhosa. Muita tinta e papel já foram gastos em milhares de teses acadêmicas e livros pedagógicos na tentativa de elucidar o problema da educação brasileira. Notadamente, marcada pela má qualidade – basta verificar os exames internacionais, em que os alunos brasileiros ocupam os últimos lugares no ranking quando avaliados em matemática, ciência e leitura – a escola brasileira não consegue ensinar. A questão é: onde está o problema? Ou qual é o problema? Está no professor? Está nas mazelas de um sistema educacional superado? É de natureza cultural? Ou sócio-econômica?
Em minha experiência, em sala de aula, alguns aspectos já se tornaram evidentes: muitos alunos não se interessam pelos estudos. É muito comum a realização de tarefas de maneira mecânica, seguindo atalhos para evitar a aspereza inerente ao esforço de aprender. O processo pedagógico (indispensável à apropriação do conhecimento) é evitado pelo aluno, ao insistir na “lei do menor esforço”. Como conseqüência, na rotina escolar, o aluno finge que aprende e o professor finge que ensina. Talvez, mencionar isto, seja chover no molhado, mas é o que acontece. E o pior é que já foi incorporado à cultura nacional e eu digo: ’É preciso urgentemente expurgar esta rotina!’
Há também o professor acomodado, sem estímulo para trabalhar, obrigado a enfrentar salas de aula superlotadas, salários baixos e condições de trabalho precárias. Pedagogicamente, pode-se concluir que o método construtivista adotado pela educação nacional, não deu certo. A progressão continuada também não! É preciso substituí-los.
O que fazer para superar esse estado de coisas?
Atribuo aos professores, principalmente, a responsabilidade da criação de um movimento educacional, que tenha em si um caráter dinâmico, por almejar transformar, inovar, iniciar um novo caminho em direção ao futuro. Isso certamente demandará a ruptura de um modelo vigente, que tem se mostrado incapaz de educar plenamente.
Sendo assim, a construção de uma escola que atenda as expectativas dos alunos precisará repensar sua forma de selecionar conteúdos e como organizar situações de aprendizagem. O professor - agente principal dessa transformação - precisará criar, planejar, realizar, gerir, avaliar situações didáticas mais eficazes e manejar diferentes estratégias de articulação entre os conteúdos.
O governo precisará atuar, proporcionando os recursos necessários à implementação desse ambiente renovado, incluindo remodelação do espaço escolar, instalação de estruturas adequadas que contemplem a utilização permanente de recursos midiáticos. Não será possível haver escolas desvinculadas dos amplos recursos de mídia e comunicação (TV, Internet, Vídeos, etc.) do mundo atual.
Um lembrete indispensável: jamais poderemos esquecer os livros!
Enfim, estas são algumas coisas que vejo, penso, pois a necessidade de melhorar se faz urgente! Porém, existe outro lado e quem é “professor de verdade”, sabe que somos para além de toda dificuldade. Quero dizer com isso que o lado humano do processo nunca deve nos escapar. Disso eu me orgulho! Tenho consciência do meu papel e sei que já fiz e faço diferença na vida de muitos. Sou educador por opção e vou continuar sendo, avançando sempre.

4 - O que o Pai Edílson diz aos seus filhos diariamente?

Esta é uma questão muito boa de responder. Sou um pai bastante ativo. O que eu digo para eles? Olha, procuro sempre alertá-los para valores que considero essenciais, como respeito e solidariedade. E deixo por conta deles para ver os resultados. Tenho tido belas surpresas. Outro dia, quando visitava a escola onde o Ícaro estuda, veio um garotinho e disse-me: “O Ícaro me ajuda nas tarefas”. Imagine você como eu fiquei... Todo tufado! (risos)
A Priscila já é uma adolescente. Com ela, além de enfatizar sempre a questão dos valores, vou mais longe. Digo sempre para acender as velas dos objetivos e não deixar apagar nunca! E ela entende que isso significa busca, mais que isso até, luta! Digo também para que jamais deixe alguém ser dono das coisas que ela acredita ou pensa. Mas, claro, tudo isso com muita responsabilidade. Para aí sim, virar liberdade!
Posso dizer que a trajetória deles está sendo bastante positiva.

5 - Quais seus autores preferidos e para quando o livro?
Gosto de tantos... Leio bastante, principalmente História e Poesia. Gosto de Filosofia também. Atualmente estou lendo “Enquanto corria a barca” (Dias, Lucy), livro que aborda os anos 70, desde questões políticas repressivas até comportamentais. E só para registrar, este livro tem um sabor ainda mais especial, pois foi presente de uma das pessoas que mais amo nesta vida! Ela sabe disso! (Risos)
Meus autores preferidos? Os grandes Manuel Bandeira e Ferreira Gullar. O fantástico angolano Agostinho Neto e minha maior influência em poesia: Carlos Drummond de Andrade.
Quanto ao livro, a única coisa que posso dizer é que sairá. Só não sei quando. Tenho outros projetos no momento, que não podem esperar.
6 - Quem é o seu indicado para Luso-poeta do mês de julho?
Tânia, fiquei muito feliz em ter feito este “bate bola” com você!
Para mim, é motivo de muita satisfação compartilhar um pouco da minha vida, das coisas que eu penso, com os amigos do Luso. Não vou citar nomes para não correr o risco de esquecer alguém. Mas, que saibam: com muitos eu aprendo, muitos eu admiro. Outros, já fazem parte da minha vida!
Parabéns ao Fernando, criador deste projeto!
E a você, o meu muito obrigado, de coração!
Forte abraço!
(O meu luso do mês de julho é a <b> Nanda.)





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