Ribeiro do Paraíso

Data 02/06/2009 13:38:56 | Tópico: Poemas -> Saudade

Era um ribeirinho de água cristalina
onde mergulhava os meus sonhos de menina
navegando com o tempo que animava
a minha infância.

Saias levantadas à cintura
esquecida de "decoro" e "compostura"
lavando a alma, o meu corpo
e a minha esperança.

Era um ribeirinho tranquilo
onde não havia tempestades,
só a brisa da bonança
animava as minhas tardes.
Como amigos, tinha as rãs
a quem chamava de irmãs,
as lesmas e um caracol
que com paciência ouvia
a cantiga que eu cantava:
"caracol,caracol,
põe os pauzinhos ao sol!".
Passarinhos pousavam nos arbustos,
libelinhas convidavam-me a dançar,
e até um lagarto vinha a sede saciar
pregando-me valentes sustos!

Era tão bom!
Se chovia,era mais forte a corrente,
ouvia-se da água, o som,
de pedra em pedra, contente
formando minúsculas cascatas,
e eu brincava às regatas
com barquinhos que fazia,
jangadas que construia...

Ai que saudades eu sinto
do meu querido rebeirinho
correndo direito ao mar.

Corria sempre a cantar,
salpicando o meu sonhar
e mais não era preciso
para eu imaginar
como era o paraíso...

Hoje está seco o ribeiro
já não canta nem saltita
nem mata a sede a ninguém.
Foi o progresso, o dinheiro,
a tal de prosperidade,
Mas eu sei,
quando o vi seco,chorei
e senti que também ele,
chorou por mim, de saudade!




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=85405